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Final Fantasy XV (PS4)

Started by Strife, Dec 30, 2016, 02:00:31

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Strife


Final Fantasy XV é um jogo com crise de identidade.

Por um lado, ele quer introduzir na série Final Fantasy o conceito de jogos open-world; por outro, precisa apresentar uma estrutura narrativa típica dos RPGs tradicionais. A primeira parte é executada muito bem na forma de um filme de "road trip" com quatro amigos viajando por um mundo fantástico, sendo também uma interessante reinterpretação do primeiro Final Fantasy com seus quatro Warriors of Light. A segunda adota uma trajetória muito mais linear em função do enredo, mas nem sempre atinge seu marco pois é nela em que se nota as cicatrizes do desenvolvimento conturbado do projeto.

É nessa crise de identidade em que se pode observar as ideias originais de quando o jogo ainda era conhecido como Final Fantasy VersusXIII (ugh) entrando em conflito com o novo tipo de jogo que o novo diretor Hajime Tabata queria construir. O enredo tem uma excelente premissa: o Império de Niflheim conseguiu atingir a quase dominação mundial, e apenas a capital do reino de Lucis ainda resiste, graças ao poder do Cristal protegido pela linhagem real. Mas durante a assinatura de um tratado de paz entre as duas nações se revela uma armadilha e o Império assume controle da cidade de Insomnia, matando o rei Regis Lucis Caellum durante o processo. O príncipe Noctis Lucis Caellum, porém, consegue fugir por ter deixado a cidade dias antes, por ocasião de uma viagem que faria encontrar para sua noiva Lunafreya Nox Fleuret, a Oráculo do reino de Tenebrae. Sendo informados dos acontecimentos, Noctis e seu grupo de guarda-costas e amigos resolvem prosseguir com a viagem para encontrar Luna e receber os poderes dos deuses a fim de enfrentar o Império.

E este cara.

O problema? Boa parte disso que descreve não acontece diretamente no jogo, mas sim no filme prequel Final Fantasy XV: Kingsglaive. Quem não tiver assistido ao filme de antemão vai receber essa notícia literalmente pelo jornal, depois de umas boas horas de jogo.

O que não exatamente combina com o clima de aventura e exploração que representa a melhor parte de Final Fantasy XV. Tabata e seu time conseguiram, com certeza, criar um mundo fantástico. Os gráficos e os designs são de primeira linha. Percorrer o mundo de FFXV é um prazer, principalmente quando os chocobos são introduzidos. Os quatro protagonistas funcionam muito bem como um grupo de amigos que se conhecem de longa data e curtem a companhia um dos outros, preenchendo o jogo com conversas (mesmo durante o gameplay) que exploram essa relação. O sistema de batalhas é incrível, combinando ação em tempo real com um surpreendente nível de estratégia. O sistema de evolução, ainda bem, voltou a ser algo simples e eficiente. Há um bom nível de customização e táticas em combate onde tudo parece se encaixar perfeitamente. As sidequests, mesmo que pareçam inicialmente mundanas, quase sempre levam a alguma recompensa como a descoberta de uma nova área inteira para se explorar. As Hunts oferecem ótimo desafio para testar suas habilidades no sistema de batalhas. Pequenos toques como acampar para recuperar HP máximo (explicações abaixo), salvar, subir de nível, comer uma comida que fornece bônus como +100 de STR e +500 de HP para o dia seguinte etc enchem o jogo de personalidade própria. Certos eventos que exploram mais os personagens são ativados dormindo em certas cidades, postos e acampamentos.

Visual de J-boyband a parte, até o Prompto é legal.

O sistema de batalhas merece destaque. A Square Enix conseguiu criar um sistema bastante focado em ação e reflexos, mas ainda com os elementos de um bom RPG. Atacar se faz segurando o botão O (no PS4), com o jogador podendo escolher com qual das quatro armas (ou magias) que Noctis pode usar a qualquer momento. Embora pareça estranho, é essencial para que o jogador possa focar no aspecto mais importante: defesa e esquiva, que se faz apertando/segurando o quadrado. Isso consome MP como se fosse uma barra de stamina, e não só é a maneira de realizar os poderosos Counters do jogo (essenciais para "quebrar" certos inimigos), mas também aumenta as chances de um Link Attack com algum dos aliados. Apertando L1 traz o menu de Techniques, onde Noctis pode ordenar aos seus aliados para que usem skills próprias de cada um, havendo uma boa seleção delas (Regroup para o Ignis funciona como uma Mega Potion e recomendo a todos que a peguem o quanto antes). R1 é o lock-on, essencial para o Warp Strike do Noctis, onde ele joga uma arma em algum lugar ou inimigo e se teletransporta para a arma. Essa mecânica sozinha já dá uma outra dimensão ao jogo, com o jogador podendo escapar de inimigos para locais altos, de onde pode recuperar MP e atacar diretamente os inimigos distantes (mesmo aéreos).

Com R2 abre o menu de itens, especialmente importantes neste FF. FFXV opera com um sistema de HP normal e HP máximo. O primeiro funciona como qualquer outro RPG, mas quando este chega a zero, o HP máximo do personagem começa a cair. Se não se recuperar rápido, o HP máximo continuará abaixando, e assim se manterá até que durma em algum lugar. E como os itens agora possuem efeitos diferentes para isso (Potions curam apenas HP normal, Elixires curam HP máximo), eles serão sua principal fonte de cura, especialmente agora que magias também funcionam como itens. Pelo mundo de FFXV, geralmente perto de pontos de acampamento, existem fontes elementais de fogo, gelo e trovão. Noctis pode absorver e depois criar magias com esses elementos, podendo ainda misturar com itens num simples sistema de craft para criar efeitos adicionais como maior potência e múltiplos usos. Uma vez criadas, são usadas como granadas no campo de batalha, alterando o cenário e podendo ser especialmente úteis em situações apertadas. Mas elas também atingem seus aliados, o que, ao invés de frustrar, apenas adiciona mais às lutas do jogo. E, embora ainda ache que um sistema de magias mais tradicional seria melhor, encaixa muito bem com a proposta das batalhas do jogo (e também pelo "lore", pois apenas membros da família real podem usar magia ou compartilhar isso com outros no mundo deste FF). Mas não existe nada pior na jogabilidade de FFXV do que a câmera, que frequentemente se posiciona atrás de objetos como árvores e pedras, e dada a natureza frenética das lutas fica difícil de focar na ação.


E é assim que Final Fantasy XV quer que você jogue: com calma, explorando o mundo, falando com as pessoas, dissecando o sistema de batalhas, enfim, como um RPG. O que, sem dúvida, é um alívio depois de FFXIII. Finalmente um novo FF com um mundo enorme e cheio de coisas divertidas de se fazer (e a pesca). Mas é um clima de aventura que claramente entra em conflito com o clima da história que quer contar. Não é o primeiro FF a sofrer disso: o mesmo aconteceu com FFXII, outro jogo da série com um mundo enorme para explorar, mas que em consequência disso o enredo ficava em segundo plano. FFXV sofre mais com isso, pois sua história tem uma premissa mais urgente. E, no entanto, é provável que suas primeiras 20h de jogo seja explorando as belas regiões de Lucis. Mas uma vez que se chega no quinto capítulo, e principalmente a partir do sexto, o jogo toma um rumo completamente distinto. O triste é que muito do que é apresentado é muito bom: tem uma história excelente aqui. Mas se FFXV fosse um filme, seria daqueles que podemos ver claramente que foram editados até a exaustão de um material original bem diferente. Cenas inteiras e acontecimentos extremamente relevantes parecem que são apresentados ao jogador apenas na sua conclusão, personagens fascinantes que entram numa cena e saem em outra para nunca mais retornar. Um vilão com potencial para ser um dos melhores da série (o Mefistófeles para o Fausto de Noctis) sabotado pela velocidade com a qual FFXV passa por batidas importantes de sua história. Alguns destes capítulos duram minutos, e nem vou entrar em detalhes sobre uma mudança de estilo de jogabilidade e um lapso temporal para não cair em spoilers. Já li gente fazendo comparações com um FFVI invertido, e devo dizer que não só reflete bem a estrutura de FFXV, mas também alguns pontos do enredo (Magitek é mais do que o Império de Iedolas tem em comum com o Império de Gestahl). O final, pelo menos, é muito bom e aberto a interpretações, fazendo jus ao "bittersweet" que prometeram. Se apenas o desenvolvimento até ele tivesse sido melhor elaborado.

Antes de finalizar, temos a parte sonora. A trilha sonora de Yoko Shimomura é bela, mas com exceção de alguns temas (Somnus sendo meu preferido), devo confessar que não achei de grande destaque (os temas de combate são ótimos, mas podia ter mais deles). Caracterizaria como funcional, mas você sabe que sua trilha sonora tem um problema quando tem que competir com o fato de que o jogo permite que seus jogadores comprem trilhas sonoras dos FFs passados em lojas espalhadas pelo mundo para escutar no carro enquanto dirige (e sim, por incrível que pareça de vez em quando me vi colocando o trajeto até uma sidequest no automático e indo de carro apreciando as vistas do mundo enquanto escutava alguns dos meus temas favoritos da história da série).

Onde eu compro a trilha de FFVI? Ei, aquilo é uma propaganda de Cup Noodles?

Que as críticas ao enredo e progressão não passem a impressão errada: FFXV é um excelente RPG, seu mundo é realizado como poucos, seu combate é viciante e provavelmente serei puta de DLC se lançarem coisas como novas dungeons e inimigos. Não me divertia assim com um jogo da série há uma década (desde, bem, FFXII). Nenhum jogo sairia ileso de um desenvolvimento tão prolongado e conturbado, e a história foi a vítima. Ainda assim, considero um marco de evolução para a série. Gostaria de ver a Square Enix explorar FFXV de maneira positiva, aprendendo com seus acertos e erros. O próximo jogo da série precisa de mais foco e menos dessa abordagem multimídia que tão claramente não dá certo (Fabula Nova Crystallis, alguém? Não?). FFXV, o jogo, teria se beneficiado muito se os acontecimentos de FFXV, o filme, fossem parte de um único produto, mas ainda saiu um excelente RPG. Ao meu ver, o grande desafio que os japoneses da Square Enix possuem pela frente é como conciliar esse tipo de jogo com as narrativas lineares a que estão acostumados. O tipo de aventura precisa de uma abordagem diferente, com o melhor exemplo sendo Witcher 3: Wild Hunt. As sidequests deste jogo são tão elogiadas pois são orgânicas ao mundo do jogo, cada qual com sua pequena história que pode ou não ter relação com o arco principal, sendo tratadas de acordo. Isso torna a exploração do mundo de Witcher 3 ainda mais atraente, pois mesmo suas Hunts são abordadas como pequenos casos de investigação para Geralt. Nota-se que o jogo e o enredo principal foram construídos para impulsionar um ao outro, enquanto FFXV é claramente composto por duas metades diferentes. Não deixa de ser um jogo fascinante em suas falhas e acertos, e torço para que represente um passo no caminho certo para Final Fantasy.


Billy Lee Black

Caraio, review completo, Strife, parabéns!

Quem sabe o jogo sai pra pc um dia e eu possa jogar =D

Red XIII

Posso concordar com a parte da história que é bem corrida mesmo. Também posso concordar com parte da trilha sonora. Escutei mais as trilhas do outros FF do que do 15 mesmo.

Porém não posso concordar com a parte da pesca. Pescar também é divertido. :lol:
Seifer sUx