[Review] Shadow Hearts (PS2)

Started by Baha, Jun 02, 2018, 20:32:38

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Baha



Lançado originalmente na metade de 2001, Shadow Hearts é o primeiro jogo da trilogia desenvolvida pela Sacnoth para PS2.

Enredo

Background

Shadow Hearts é ambientado no início do século XX em uma versão fictícia do nosso mundo.

Durante uma viagem de trem na qual tropas japonesas estão transportando uma jovem caucasiana através da China, um sinistro homem de cartola com poderes demoníacos realiza um ataque para sequestrar a moça. Um elemento inesperado nessa situação acaba sendo a aparição de um rapaz, Yuri, que parece também ter poderes e que, guiado por uma misteriosa voz, acaba resgatando a jovem Alice.



A partir daí os dois partem em uma jornada para fugir das várias forças que desejam pôr as mãos em Alice enquanto descobrem segredos ligados a seus passados.

Comentários

Uma das coisas mais interessantes na história de Shadow Hearts é sua ambientação, que toma como base uma versão do nosso próprio mundo real, em uma época bem pouco explorada e há não tanto tempo atrás.

O jogo se passa alguns anos após Koudelka, jogo de PS1 da mesma produtora, e tem algumas ligações com ele. Ainda é possível entender bem tudo no jogo, que tem os elementos principais de sua história bastante auto-contidos, mas é bacana ter jogado Koudelka para ter um entendimento mais profundo nas partes em que as referências ocorrem.



Comparando com aquele jogo, aliás, Shadow Hearts possui um clima muito mais leve e bem humorado, contando até com algumas piadas idiotas, algo (quase) totalmente ausente no game de PS1. A ambientação geral ainda é sombria, lidando com diversos mitos e elementos folclóricos prevalentes na época, como possessão, maldições e espíritos.

Outra coisa interessante é que o jogo é dividido em duas partes, com uma se passando na China e outra na Europa, e contrasta bem as diferentes mitologias das regiões.

O texto é ok em geral, mas há algumas situações que demonstram problemas grosseiros de tradução.



Os 6 personagens jogáveis são na sua maioria bem variados e carismáticos. Alguns ficam mais apagados quando seus arcos principais no enredo são encerrados, mas de forma geral as cutscenes exploram de forma decente as relações e passados da maioria.

A progressão do jogo leva a uma escalada de eventos que toma grandes proporções, e em certas partes, especialmente perto do final, ele passa uma sensação muito semelhante a Final Fantasy.

Gráficos

Os gráficos do jogo são bem fracos para o PS2. Ele foi lançado cedo na vida do console, mas Final Fantasy X é do mesmo ano e imensamente superior em todos os aspectos.

Aqui, durante a exploração, o jogo utiliza cenários pré-renderizados e modelos poligonais para os personagens, da mesma forma que Koudelka e a série Final Fantasy no PS1.



Os cenários têm uma resolução meio baixa, e levando em conta serem pré-renderizados, daria facilmente para esperar modelos bem melhores nos personagens que os que são apresentados aqui. Porém eles são muito simplórios, com baixa contagem poligonal e texturas borradas. A movimentação de Yuri correndo durante a exploração também é esquisita.

Em combate tudo é poligonal, com os mesmos modelos da exploração usados nos personagens, mas os cenários são extremamente básicos e com texturas ainda mais simplórias.



O jogo tem algumas CGs espalhadas pela sua duração. A qualidade é um meio termo do que se pode esperar da era PS1 e PS2. Outras cutscenes mais focadas em diálogo e história utilizam sequências de pinturas com narração por cima.

Ao menos o jogo roda a 60fps, o que ajuda a trazer um pouco de conforto visual.

Som

Diferente de Koudelka, há música de fundo para a exploração aqui. A maioria complementa bem o clima do jogo, mas sem grande destaque por si só. Algumas músicas esquisitas estão presentes aqui e ali, mais por destoarem do esperado que por serem irritantes mesmo. A música de combate infelizmente é bem ruinzinha.

Durante as CGs os diálogos são falados, e a dublagem é bastante inconsistente. Há uma ou outra voz boa, mas o pacote geral é bem ruim. Durante o gameplay normal vozes se limitam a algumas ações em combate, que misturam a dublagem japonesa e ocidental de forma bizarra.

Gameplay

Exploração

Ao contrário do híbrido com survival horror que era Koudelka, Shadow Hearts é um JRPG bastante tradicional por completo.

A exploração é muito semelhante a qualquer Final Fantasy de PS1. Aqui há lojas, hospedarias e NPCs diversos para conversar nas cidades.



Todas as localidades do jogo são acessíveis através de um mapa onde você pode escolher entre os locais disponíveis. Não há um overworld ou algo parecido. A progressão do jogo é totalmente road trip, alternando entre cidades e dungeons e raramente te levando de volta a locais já explorados.

Cada personagem possui suas próprias skills e armas, e o aprendizado de skills para quase todos se dá com o passar dos níveis, tornando todos bastante especializados.

A principal particularidade do jogo é o "judgement ring", um sistema amplamente usado no gameplay de exploração e em combate. Diversas ações que exigem algum esforço para conseguir sucesso o utilizam. Quando o judgement ring é utilizado, um círculo aparece na tela e uma linha o percorre no sentido horário, como o ponteiro de um relógio. É preciso apertar o botão de ação quando a linha passa pelas regiões coloridas do círculo para obter sucesso. Cada evento possui uma distribuição diferente das regiões de sucesso, e a velocidade da linha também varia, podendo esses parâmetros serem aleatórios.



Um exemplo é o sistema para conseguir descontos nas lojas. É possível encontrar cartões especiais no jogo que te permitem tentar negociar. A negociação é feita através de uma rodada de judgement ring. Se obtiver sucesso, você consegue 10% de desconto. Existem 5 cartões no jogo, e você pode tentar descontos sucessivos com cada um deles, sendo capaz de obter 50% de desconto se obtiver sucesso em todos durante uma compra. Se falhar em algum momento, você compra o item pelo preço base, sem nenhum desconto. É possível inclusive tentar comprar um item mesmo sem ter dinheiro para o preço base, usando o desconto, mas se você falhar ao tentar fazer isso seu cartão toma uma penalidade. A cada 5 penalidades você perde permanentemente um dos cartões.

Como o judgement ring também é usado em combate, armas diferentes possuem áreas de sucesso diferentes no círculo, e essa é uma característica a ser levada em conta na hora de escolher qual arma usar. Há também diversos itens e acessórios com efeitos que influenciam o círculo, aumentando o tamanho das áreas de sucesso, diminuindo a velocidade da linha, ou mesmo fazendo o contrário, em troca de algum outro bônus para o personagem.

Existe também "o cemitério", que é uma representação do subconsciente de Yuri. Você pode acessá-lo em save points e é lá que ele aumenta o nível de suas fusões e realiza alguns outros eventos. Quando você luta, acumula "malícia", que é representada como uma coloração em um amuleto de Yuri. É preciso ir ao cemitério de tempos em tempos para enfrentar uma batalha que "limpa" sua malícia. Se isso não for feito, após a malícia atingir o nível máximo alguns combates alternativos, muito difíceis, começam a ocorrer.



Quase todas as side quests ficam disponíveis na entrada da reta final do jogo, e é muito provável perder elas se não estiver usando um guia, já que é preciso revisitar lugares por onde você passou antes e em nenhuma outra ocasião apresentaram mudanças em seus eventos e no comportamento dos NPCs. Também é preciso estar com as pessoas certas no grupo, e em um ou outro caso realizar um procedimento meio obscuro. Elas envolvem algumas dungeons opcionais também.

As dungeons de forma geral não são muito longas, e algumas possuem puzzles bem básicos para liberar caminho ou acesso a itens. Alguns eventos também transformam localidades antes seguras em mini-dungeons. O jogo utiliza o sistema clássico de encontros aleatórios, mas a frequência dos encontros até que é tranquila.

Combate

O combate no jogo é por turnos, como em um JRPG bem padrão. Seus grandes diferenciais são as habilidades de Yuri, o sistema de SP e o uso do judgement ring.

Yuri é um harmonixer, uma pessoa capaz de se fundir com os espíritos de criaturas em combate. Ao invés do comando de magia/skill normal, ele possui um comando de fusão, onde pode escolher uma das almas que possui para se fundir, gastando SP no processo. A fusão garante alguns aumentos nos status de Yuri e dá acesso a 3 skills da criatura específica, havendo fusões mais voltadas para papéis ofensivos e outros defensivos. Quase todas as fusões são descobertas e melhoradas no cemitério, utilizando pontos elementais conseguidos ao derrotar inimigos.



O SP, ou "Sanity Points" é um sistema meio estranho. Todos os personagens possuem SP, e por padrão cada ação normal em combate consome 1 ponto. Se um personagem chegar a 0, ele entra em berserk, realizando ações aleatórias em alvos aleatórios, e não ganha XP ao fim do combate. É possível resolver isso usando itens para recuperar SP, que funcionam mesmo que alguém já tenha entrado em berserk. Curiosamente Yuri, pra quem o sistema deve ter sido pensado, tem de longe o maior SP do jogo e é sempre quem tem menos perigo de entrar em berserk em combates longos, mesmo utilizando uma fusão.

E por fim temos o judgement ring aplicado ao combate. Quase todas as ações exigem uma rodada do círculo para terem sucesso. No caso de ataques normais, sempre há 3 áreas de sucesso disponíveis. Acertar em cada uma garante que o personagem dê 3 ataques. É preciso acertar na ordem: não apertar o botão dentro da primeira área de sucesso já é uma falha completa, mas acertar apenas na primeira área por exemplo faz o personagem realizar um ataque só. Dentro de cada área há também uma região menor, vermelha, que garante que ataque saia ainda mais forte. Isso não é bem um acerto crítico, pois críticos (chamados de "Strike" no jogo) podem ocorrer independente disso e seguem regras padrão de probabilidade para acontecerem.



Outras ações, como uso de skills e itens, possuem suas próprias regras diferenciadas para sucesso.

Uma coisa interessante é que há status negativos e positivos que afetam o judgement ring de um personagem, mudando o tamanho das áreas de acerto, a velocidade da linha, tornando as áreas invisíveis, etc.

Os inimigos que você enfrenta são criaturas bizarras tiradas das lendas mais obscuras dos folclores e religiões das regiões por onde você passa, variando bastante do que é mais comum no gênero.



Não é um jogo difícil de forma geral, mas algumas coisas do conteúdo opcional podem exigir grinding e medidas especiais de preparação.

Conclusão

Shadow Hearts é um jogo bastante tradicional do gênero, que com suas particularidades na história e gameplay, principalmente a ambientação raramente explorada e seu judgement ring, consegue ser uma experiência bem interessante e agradável, apesar de alguns problemas como os gráficos bastante aquém do que a plataforma é capaz.



Meu save final contabilizou em torno de 31 horas, comigo tendo feito quase todo o conteúdo opcional.

Billy Lee Black

Mais um belo review.

Infelizmente, não joguei esse jogo. joguei somente o 2 e o 3, mas eles foram alguns dos melhores jogos que já joguei!

Acho fantástica a ambientação ser no mundo real, e passar por alguns eventos históricos.

Por causa do Shadow Hearts 3, o Deserto de Sal na Bolívia se tornou um dos meus destinos de viagem mais cobiçados :p