[Review] Dragon Quest 6 (SNES)

Started by Baha, Sep 12, 2018, 00:39:32

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Baha



Dragon Quest 6 foi lançado no final de 1995 pela Enix para o Super Famicom e, assim como o anterior, não ganhou uma localização ocidental antes de receber um remake.

Enredo

Background

Dragon Quest 6 se inicia com 3 personagens invadindo o castelo do demônio Mudo para confrontá-lo, mas sendo facilmente derrotados e aparentemente exterminados.



Logo depois, seu protagonista é acordado pela irmã em um idílico vilarejo montanhoso, e a cena anterior parece ter sido apenas um pesadelo... Mas se recompor e dar continuidade às suas tarefas referentes ao festival que a cidade está prestes a celebrar, o herói presencia eventos misteriosos e percebe que seu destino é mais importante do que parece.

Sua jornada então o leva a reunir companheiros e compreender a peculiar relação entre os mundos paralelos que as pessoas habitam, enquanto se prepara para confrontar de uma vez por todas o demônio que ameaça ambos.



Comentários

A história de Dragon Quest 6 é dividida em alguns arcos. No começo ela lembra um pouco a abordagem pessoal do quinto jogo, mas logo se afasta disso e adquire uma estrutura muito mais solta e fragmentada, semelhante aos 3 primeiros jogos da franquia.

Há algum desenvolvimento para os personagens, com cada um tendo seu arco pessoal, mas todos são bastante curtos, sem nada que lembre o grande épico do protagonista de Dragon Quest 5. Muitas vezes, após seus eventos pessoais certos personagens simplesmente "estão lá", o que lembra o tratamento superficial visto em personagens secundários de Star Ocean 2. O envolvimento dos vilões com o grupo também é bastante decepcionante, apesar de sua influência na situação do mundo.



Uma coisa interessante é que um evento muito conclusivo ocorre extremamente cedo no jogo, e depois disso o foco narrativo muda totalmente, passando a focar em pequenas crônicas e quests nas localidades por onde o grupo passa, explorando dois mundos enormes.

É nesse ponto também que o ritmo da história passa a ficar inconsistente e muitas vezes desinteressante. As diversas situações muitas vezes não possuem qualquer interligação entre si ou com o arco maior do enredo, lembrando o tipo de situações presentes em Dragon Quest 2.



A relação entre os mundos, com um deles sendo o mundo dos sonhos, é explorada de forma bem interessante, com eventos afetando um ao outro e até diferenças geográficas explicadas pelo efeito do inconsciente coletivo.

Esse jogo encerra a "trilogia de Zenithia", mas também é o que tem as ligações mais vagas com os jogos teoricamente relacionados.



Gráficos

Finalmente, Dragon Quest 6 é o primeiro jogo da série que pode ser considerado realmente bonito.

O estilo gráfico abandona completamente as semelhanças com os jogos da geração anterior e apresenta cenários e sprites que se equiparam aos melhores do gênero na plataforma, como Chrono Trigger e Seiken Densetsu 3.



Os cenários principalmente são bastante detalhados e passam uma ótima atmosfera. Além disso efeitos visuais como névoa são eventualmente usados. Uma reclamação que eu tenho é que o mundo dos sonhos poderia ser mais criativo, pois aqui é apresentado apenas como uma versão levemente mais fantasiosa do mundo real.

Como o jogo é enorme há bastante repetição de sprites e temas, principalmente levando em conta o reaproveitamento que ocorre entre os dois mundos, mas mesmo assim a variedade é grande.



Em combate a série enfim teve uma grande melhoria também. Agora as batalhas se passam em belos cenários que ocupam a tela toda, e o maior destaque fica por conta dos inimigos, que agora possuem animações bastante suaves para suas ações. É tudo muito mais agradável que antes, mas não apaga totalmente o aspecto arcaico dos combates em primeira pessoa tradicionais de Dragon Quest.

A interface geral teve melhorias leves, com os tradicionais menus da série agora usando um fundo semi-transparente, mas nada além disso.



Som

O som também evoluiu para os patamares esperados de um jogo avançado na plataforma, aproveitando a complexidade permitida pelo hardware do console.

Algumas composições são acima da média, e em especial a música de combate é bastante grudenta.



Gameplay

Exploração

O gameplay de Dragon Quest 6 trouxe algumas melhorias muito bem vindas, e francamente atrasadas, de conveniência.

Agora a velocidade de movimentação do personagem é bem alta e torna a exploração geral muito mais agradável. O jogo também trouxe um saco com espaço infinito que seu grupo carrega. Basicamente é o banco, mas agora portátil. Ele não é acessível em combate, mas fora isso permite que o inventário do seu grupo seja sempre fácil de administrar.



Mapas são conseguidos bem cedo no jogo, e são de grande ajuda. Principalmente o mapa do mundo real, que começa só com silhuetas e se completa à medida que você explora. Parece algo ruim, mas acaba se mostrando extremamente útil para ter noção de por onde você já passou ou não, e acredite, você vai precisar disso. Os mapas possuem um botão dedicado para seu uso, o que é muito bem vindo, e ajuda a mitigar um pouco o péssimo aproveitamento do controle do Snes que a série tem feito.

Como mencionado ao comentar sobre a história, sua progressão é dividida em arcos. O primeiro possui uma estrutura bastante linear e tradicional, com o enredo te empurrando entre os locais disponíveis e as situações.



Mas ao encerrar um importante evento, seu grupo é largado basicamente sem rumo no mundo, e esse acaba sendo um dos jogos mais vagos de toda a série com relação ao seu direcionamento. Muitas vezes você sequer terá dicas de onde é possível ir, e vai ter que explorar realmente às cegas. Ainda assim, apesar de o jogo parecer solto e aberto, ele continua bastante linear. Após explorar você vai notar que na prática só existe um caminho possível para progredir na história, com no máximo alguma pequena side quest possível em outro lugar.

É apenas bem mais pra frente que o grupo finalmente tem acesso a um bloco de atividades não lineares, antes do jogo enfim entrar na reta final.



E aliás, Dragon Quest 6 é um jogo enorme. Eu diria que ele pode chegar ao dobro da duração do anterior. O problema é que com o direcionamento vago e as situações desconexas, uma boa parte disso pode se mostrar cansativa e entediante.

O ciclo de dia e noite, presente desde o terceiro jogo, foi abandonado aqui. Agora eventos noturnos são totalmente dependentes das necessidades da história.



Para equilibrar a duração do jogo, a progressão de experiência do grupo é bem mais lenta. Espere demorar bastante para ganhar níveis. Para mitigar um pouco isso, o jogo traz de volta um sistema de classes que atua de forma paralela aos níveis dos personagens.

Esse sistema de classes só dá as caras após a finalização do primeiro arco da história, e funciona de forma bem diferente daquele introduzido em Dragon Quest 3, trazendo algumas semelhanças com os sistemas presentes em Final Fantasy. As classes agora possuem seus próprios níveis para cada personagem, não relacionados ao nível de experiência do personagem em si. É possível trocar classes a qualquer momento visitando a Shrine of Dhama e o progresso com a atual não é anulado. Cada classe aplica modificadores aos atributos do personagem, além de possíveis efeitos passivos. Esses são totalmente alterados ao trocar de classe, mas o que se mantém sempre com o personagem são as skills e magias aprendidas ao ganhar níveis com cada uma. A quantidade aliás é tão alta que há um certo desequilíbrio. Certas skills são claramente melhores que qualquer outra coisa da mesma categoria, principalmente porque costumam não gastar MP, e algumas possuem sinergia muito boa com classes diferentes das que as ensinam.



A progressão de níveis de cada classe ocorre com base na quantidade de batalhas vencidas. Apesar disso, não funciona grindar nas primeiras áreas do jogo, pois só são contabilizadas batalhas em regiões onde um valor oculto de nível seja maior que o nível atual do personagem, então na maior parte do tempo é preciso prosseguir com o jogo ao invés de parar para maximizar as classes.

As classes não afetam a seleção de equipamentos disponíveis para cada personagem. Junto com os atributos-base de cada um, isso indica certas compatibilidades com cada classe, mas é sempre bom variar um pouco para estar melhor preparado para diferentes situações.



Existem também classes avançadas bastante poderosas, que possuem como requisito atingir o nível máximo (8) em determinadas classes básicas. Além disso há classes secretas que precisam ser aprendidas com o uso de itens, como era o caso de Sage em Dragon Quest 3.

Há algumas dungeons bem grandes no jogo e a frequência dos encontros, que é variável, pode ser bastante alta em certas situações. Felizmente a movimentação rápida ajuda a manter isso equilibrado.



Em termos de conteúdo opcional, as medalhas ocultas pelo mundo estão de volta, bem como o cassino. Agora há uma arena de luta de slimes, onde você pode competir com alguma que capturar. Existe inclusive um bizarro concurso de beleza do qual seus personagens podem participar. Também há uma dungeon acessível apenas após terminar o jogo.

Combate

Apesar das novas animações dos inimigos, o combate transcorre bastante rápido. Mesmo assim o funcionamento geral e a interface continuam semelhantes a como sempre foram na série. Uma mudança bem vinda com relação ao jogo anterior é que seu grupo de combate voltou a ter 4 personagens.



Fora isso, tudo funciona de forma basicamente a igual a Dragon Quest 5. O sistema de IA com possibilidade de controle manual continua presente, com as mesmas qualidades e defeitos.

Chefes agora são bem mais diferenciados de inimigos normais, com muito mais HP e algumas habilidades específicas.



A dificuldade do jogo é inconsistente. Algumas situações frustantes com inimigos utilizando habilidades que podem exterminar o grupo em momentos de azar voltaram a acontecer, lembrando o padrão de alguns capítulos de Dragon Quest 4. Mais pra frente, aproveitando o sistema de classes, é possível estar melhor preparado contra tudo e avançar com mais garantia.

Conclusão

Assim como o quarto jogo da franquia, Dragon Quest 6 é um jogo de altos e baixos. Ele tem bons gráficos, um pano de fundo interessante para a ambientação do mundo, é enorme e possui um sistema bacana de classes, mas a progressão da história é arrastada, quebrada por uma enorme sessão central de pequenas quests disjuntas, e o equilíbrio dos desafios não é dos melhores.



Além disso, seus aspectos tradicionais e mais arcaicos a essa altura contrastam muito, e bem negativamente, com outros diversos jogos da mesma época que apresentavam um gameplay muito mais fluído e moderno, por mais que ele tenha recebido algumas modestas melhorias de conveniência.

Os remakes disponíveis para o jogo são apenas para DS e smartphones, seguindo o padrão dos remakes de DQ4 e 5 para DS.



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