[Review] Dragon Quest 5 (SNES)

Started by Baha, Aug 23, 2018, 23:28:51

Previous topic - Next topic

0 Members and 1 Guest are viewing this topic.

Baha


Dragon Quest 5 foi lançado pela Enix para o Super Famicom em 1992, sendo o primeiro da série no novo console da Nintendo. Ele também foi o primeiro a não receber uma localização ocidental de sua versão original.

Enredo

Background

Dragon Quest 5 se inicia com a chegada de um pequeno garotinho e seu pai à cidade onde eles moram, depois de viajarem o mundo em uma jornada de 2 anos, na qual seu pai estava à procura de "algo".



Enquanto seu ocupado e importante pai precisa cuidar de vários assuntos, o garoto começa a aprender sobre o mundo ao seu redor. Mas sua vida estava prestes a mudar completamente, atingida pelas consequências de eventos ligados ao passado de seu pai e do mundo como um todo.

Comentários

Dragon Quest 5 possui o enredo mais ambicioso da série até o momento. Enquanto no quarto jogo eram apresentadas histórias de diversos personagens, aqui seu protagonista é o foco desde o início, mas sua jornada é contada de forma detalhada ao longo de décadas, iniciando quando ele tem apenas 6 anos de idade e chegando ao momento em que ele prossegue ao lado de seus próprios filhos.



Aliás, o subtítulo dos remakes, "Hand of the Heavenly Bride" entrega um ponto importante da história. Em um certo momento seu personagem se casa, e você pode escolher com quem! Só que, das duas opções disponíveis, o jogo é bastante parcial em te empurrar para uma em específico. A decisão soa praticamente como "Você quer ser um cara legal e casar com a moça A, ou ser um monstro cretino e casar com a moça B?".

Esse é o jogo em que o ritmo e a densidade da narrativa atingem um padrão condizente com o que seria muito comum na geração. Sequências de eventos importantes, alguns com pequenas cutscenes envolvidas, são comuns na progressão do jogo, mais até que no anterior. Por outro lado, esse enredo mais intrincado e elaborado começa a se encaixar de forma pior com a tradição do uso de um protagonista mudo. Pior ainda, o protagonista tem diálogos nas raras ocasiões em que você não está no controle dele, mas em suas mãos ele só sabe responder com "....." ou algum Sim/Não que você escolher.



Há diversos personagens relevantes na história, mas demora até o seu grupo ter mais de 1 ou 2 ao mesmo tempo, e esse jogo aliás se passa no mesmo mundo do quarto, mas muitos anos depois e com ligações bem pequenas.

E nesse quinto capítulo a série Dragon Quest parece ter resolvido parar de dar moleza pros seus protagonistas, já que minha nossa, o seu herói aqui tem uma vida de MERDA durante grande parte do jogo. Todo tipo de desgraça acontece com o infeliz. A história também apresenta uma reviravolta simples, mas bastante interessante e pouco usada no gênero.



Uma pena que o vilão principal não seja interessante e presente como o do jogo anterior, mas ao menos um de seus subordinados compensa isso com louvor, ao menos em termos de envolvimento com a história. E falando em vilões, é notável que as histórias de Dragon Quest também gostam de se ater à ideia da moralidade preta e branca, com bem e mal muito bem definidos e funcionando como clubes onde dentro de cada um todo mundo se apoia. Dragon Quest 4 havia flertado de leve com uma zona cinza, mas aqui a única exceção são alguns humanos idiotas.

Gráficos

Os gráficos do jogo são um tanto decepcionantes para a plataforma. Eles são bastante simplórios, e as principais evoluções notáveis com relação ao que havia no NES são a variedade de cores e os sprites dos personagens, que são um pouco mais detalhados.



Com relação aos cenários, alguns são mais caprichados, mas outros chegam a usar literalmente alguns dos mesmos tiles dos jogos NES, como certas cavernas. Em raras ocasiões onde uma paisagem distante é visível no fundo do cenário, um efeito bacana de parallax é usado. O overworld é visualmente muito parecido com o que havia nos anteriores também.

Em combate, o jogo voltou a usar o estilo visual do primeiro Dragon Quest, com os inimigos aparecendo numa caixa no centro da tela, que fica de overlay para o cenário de exploração. A diferença é que dessa vez a caixa não é quadrada, mas pega toda a largura da tela, pois vários inimigos são visíveis. Esses fundos de cenário são bem simples, com um ou outro tendo alguma pequena animação, como nuvens passando. Mesmo assim, a adição desses fundos e alguns simplórios efeitos visuais para as ações são as únicas mudanças. Os inimigos ainda são sprites estáticos com aproximadamente a mesma qualidade daqueles usados no NES, exceto pela variedade de cores. Alguns sprites são inclusive reaproveitados diretamente dos anteriores, chegando ao ponto de alguns dos mesmos sprites de inimigos de Dragon Quest 1 serem utilizados, variando apenas de coloração.



A parte mais decepcionante mesmo é a interface, que não evoluiu absolutamente nada com relação aos anteriores, e a essa altura começa a se mostrar bastante deficiente. Os resultados de todas as ações continuam sendo descritos via texto (mesmo que agora acompanhados do efeito de seu "impacto") e as mesmas caixas com o mesmo visual continuam lá.

Som

As músicas do jogo não utilizam tudo o que as capacidades de som do SNES têm a oferecer, mas algumas já são bem mais avançadas que qualquer coisa possível no NES e dentre elas há certas composições bem bonitas.



A qualidade não é totalmente consistente em todas as ocasiões, porém, e não há nada de significativo em termos de efeitos sonoros.

Gameplay

Exploração

Dragon Quest 5 mantém o padrão extremamente conservador da série com relação ao seu gameplay central. O funcionamento da exploração e as ações básicas durante isso são essencialmente as mesmas de todos os anteriores.



Mas assim como em cada um dos anteriores, algum polimento e certas melhorias também foram realizadas. Provavelmente a mais importante de todas para a conveniência da jogabilidade é que FINALMENTE há um botão que unifica a ação de "interagir com o que está na sua frente". Acontece que mesmo essa implementação é apenas um atalho contextual para alguma das ações do menu, que continua presente. E sendo assim, quando o seu personagem não está diante de nada relevante a ação vai ser a clássica "Search". E assim como em TODOS os anteriores, usar essa ação em um local sem nada te fará ter que passar por duas janelas inteiras de texto avisando que a procura não encontrou nada... Nesse caso, o procedimento comum em vários RPGs de correr por aí apertando o botão de ação para vasculhar os lugares é bem inviável.

E essa insistência em se apegar a aspectos arcaicos e inconvenientes de uma interface que parou no tempo, mesmo após 5 jogos e uma mudança de geração de consoles, começa a ficar bem cansativa e irritante. Enquanto outros representantes do gênero estavam trazendo tantas boas ideias na mesma época, ver Dragon Quest deliberadamente deixando coisas assim barrarem a realização de todo o seu potencial como jogo é algo muito frustrante. Eu estive mencionando os aspectos arcaicos dos anteriores, mas exceto no caso de falhas gritantes de execução eu procurava evitar que eles afetassem negativamente minha visão do jogo, mantendo a mentalidade de compreender que são artefatos e consequências daqueles jogos serem produtos de suas épocas. Mas a partir de agora não é mais o caso. A interface de Dragon Quest 5 não é muito arcaica apenas para 2018, ela é arcaica para 1992 e isso atrapalhou meu aproveitamento do jogo.



Feito o desabafo, vamos prosseguir com a análise da jogabilidade, pois agora as coisas melhoram.

E falando um pouco mais nos pequenos aprimoramentos que o sistema recebeu, agora dentro da parte de "Status" no menu há uma opção "Refill". Com o uso dela seus personagens irão automaticamente utilizar suas magias para recuperar o HP de todo o grupo, o que é bastante conveniente. As magias são usadas uma a uma, o que pode tornar o processo um pouco demorado, mas ao menos assim você mantém uma boa noção do níveis de MP de cada personagem. A escolha dos personagens que vão curar também não parece muito inteligente, as vezes esgotando o MP de alguém enquanto há outro curandeiro igualmente qualificado e com o MP cheio. Ainda assim, funciona bem de forma geral.

Outra melhoria que torna o progresso mais agradável é que agora cada personagem possui 12 espaços no inventário, ao contrário de 8 como era nos anteriores. Isso reduz bastante a necessidade de uso do banco e permite manter alguns equipamentos utilitários com os personagens para situações incomuns.



A maior novidade do gameplay é o recrutamento de monstros. Agora há diversos monstros que, uma vez derrotados em combate, podem pedir para se juntar ao seu grupo. Desde a icônica slime, passando por golems e dragões. Cada monstro tem sua progressão de atributos e magias, seu limite de nível e sua disponibilidade de equipamentos. Alguns são extremamente úteis para incrementar seu grupo, mas apenas um tem relevância na história.

O grupo, aliás, pode ter até 8 personagens na caravana, entre pessoas e monstros. O excedente fica na "creche" de monstros ou numa taverna em uma certa cidade. É preciso estar na caravana para ganhar XP, ou no grupo principal de combate em locais onde nem a caravana entra.



O cassino introduzido em Dragon Quest 4 está de volta, trazendo novas atividades, como corrida de slimes. Novamente tudo nele depende absolutamente de sorte, e alguns dos melhores equipamentos de todo o jogo estão disponíveis como prêmios se você juntar uma quantia absurda das moedas usadas lá dentro. É bem fácil "quebrar" o jogo se você tiver paciência e/ou save states à disposição.

A exploração de dungeons também continua com os mesmos elementos clássicos da franquia, mas devo dizer que com exceção de uma dungeon opcional que eu me meti a explorar antes da hora, esse é o Dragon Quest mais fácil até o momento. As situações brutais presentes no jogo anterior praticamente não dão as caras aqui.



Em termos de conteúdo realmente opcional, fora o cassino, você pode gastar um tempo brincando de mestre pokemon. Além disso as small medals retornam, e se você vasculhar bem o mundo atrás delas pode conseguir ótimas recompensas. Há uma ou outra dungeon opcional durante a jornada, mas esse é o primeiro da série a trazer uma dungeon bônus acessível após terminar o jogo normal. Ela naturalmente tem os inimigos mais fortes, os equipamentos mais poderosos e um superboss absurdamente violento.

Combate

Para começar, vamos tirar um ponto negativo do caminho: Seu grupo em combate foi reduzido de 4 personagens para 3, e isso é nítidamente restritivo, principalmente sendo este o jogo com o maior número potencial de "personagens" jogáveis da série.



Dito isso, apesar da interface incomodar pelo tradicionalismo exagerado, temos aqui o combate mais agradável de um Dragon Quest até o momento.

Primeiramente, não há mais desperdícido de ataques quando um grupo é eliminado. O personagem vai atacar algum outro grupo nesse caso. Além disso agora há armas que atingem múltiplos inimigos, e isso ajuda bastante a agilizar combates. Por questões de equilíbrio, apenas o primeiro inimigo atingido sofre o dano total do ataque, mas ainda assim é algo bastante útil. Outra qualidade é que mesmo com a adição dos efeitinhos para as ações em combate, o fluxo das ações é mais rápido que nos anteriores agora, o que é muito bom.



O sistema de IA para o grupo introduzido em Dragon Quest 4 está de volta aqui, mas dessa vez os seus principais problemas foram resolvidos da forma mais simples e óbvia possível: A opção de controle manual. Simplesmente uma opção nova dentre as estratégias disponíveis, e com o uso dela você pode dar comandos específicos para todos os seus personagens. As outras estratégias funcionam decentemente bem, minimizando atitudes estúpidas que haviam no jogo anterior, e eu deixei alguma delas selecionada na maior parte do tempo. Mesmo assim, era ótimo saber que nos momentos em que eu realmente precisava eu tinha a opção de ter um controle mais preciso das ações do meu grupo, já que esse é um sistema de combate construído a partir de um alicerce focado no controle manual das ações.

Conclusão

Se for analisado pelos seus próprios méritos e comparado apenas com os jogos anteriores da série, Dragon Quest 5 é provavelmente o melhor até o momento, superando inclusive o terceiro jogo da franquia. Mas é inevitável lembrar que existe todo um mundo ao redor, e que esse mundo esteve progredindo muito mais rápido que a série nessa época. Final Fantasy V, por exemplo, foi lançado no mesmo ano.



Mesmo assim ele melhora tudo o que havia antes na série, além de apresentar uma história muito ambiciosa e um mundo interessante. Uma pena que seus aspectos técnicos e sua interface tenham ficado tão ancorados no passado.

E assim como os anteriores, também há remakes disponíveis para ele. Em especial, há um remake para PS2 totalmente poligonal e bastante caprichado, mas que também ficou restrito ao japão. Felizmente esse remake também possui um patch de tradução disponível, e é plenamente apreciável em inglês.



O outro remake é o de DS. Apesar de tecnicamente inferior, pois utiliza a mesma engine dos remakes de DQ4 e 6 na mesma plantaforma, ele é o que mais possui conteúdo, incluindo uma terceira opção para o noivado. E baseado nesse remake temos a versão mais recente de todas, para smartphones.



Se for jogar um deles, eu pessoalmente vou dar preferência para a versão de PS2, mas todas parecem ser bem recebidas na comunidade.

Galeria de Screenshots


Strife

O remake de PS2 é lindo, foi o que joguei. Houve as melhorias na interface arcaica, o grupo voltou para quatro personagens (além dos monstros) e a trilha sonora é completamente orquestrada. O enredo é o melhor da série e o que mais explora coisas diferentes do padrão dela, mesmo os jogos seguintes não superaram nesse aspecto. É o tanto que DQ é conservador.

É comum DQV ser considerado o melhor da série entre a comunidade, inclusive é o favorito do criador. No meu caso, é meu segundo DQ favorito, atrás apenas do DQVIII.

Baha

E finalmente joguei o remake de Dragon Quest 5 para Playstation 2.

A história é exatamente a mesma, mas a inclusão do party chat tornou os personagens bem mais desenvolvidos.



Os gráficos parecem ser baseados na engine de Dragon Quest 7, mas bastante aprimorados para o Playstation 2, de forma a permitir um nível maior de detalhes nos cenários e personagens poligonais. É semelhante à diferença entre Wild Arms 3 com relação ao 2. Estranhamente não há filtragem de texturas por padrão, deixando com um aspecto pixelado as que têm menor resolução. Por outro lado o visual geral é bastante limpo, e o jogo tem um visual muito agradável, com cores bastante vivas. O jogo se permite bem mais liberdade com a câmera, contando com ângulos variados dependendo da situação, tirando proveito dos cenários. Cutscenes cinemáticas também são muito comuns agora. Deu pra notar que houve um esforço maior em termos de valores de produção e capricho de acabemento aqui.

No remake de Dragon Quest 4 todos os cenários eram basicamente reconstruções exatas dos seus layouts originais na nova engine, mas aqui algumas dungeons e certos outros locais foram reprojetados de forma a tirar maior proveito dos gráficos 3D. O Overworld também é 3D, contando com um forte efeito de perspectiva e curvatura do mundo.



As músicas do jogo são orquestradas e a maioria se beneficiou bastante desse tratamento.

O gameplay geral é agradável pros padrões da série, e a principal vantagem é a movimentação via analógico bastante solta. Ao invés das 8 direções de Dragon Quest 7, aqui é tudo bem mais dinâmico. Além disso o analógico direito permite rotacionar a câmera.

Os combates lembram os do remake de Dragon Quest 4, mas os inimigos aqui são totalmente poligonais, muito bem animados e as ações em geral transcorrem bem rápido, o que é muito bom. Outra vantagem é o grupo de combate ter voltado ao padrão da série de 4 personagens, o que é muito mais confortável em termos de opções estratégicas.



A interface é a mesma de sempre... Ela conta com todas as melhorias acumuladas na série ao longo dos anos, mas não deixa de ter seus aspectos arcaicos ainda incomodando. Em combate há alguns auxilios visuais para certos efeitos, mas outros importantes como números no meio da tela estão ausentes, com a caixa de texto embaixo ainda sendo responsável por 90% da informação.

Em termos de conteúdo opcional, esse remake de Dragon Quest 5 adicionou o jogo de Pachisi, que havia aparecido no remake de Dragon Quest 3 para Super Famicon, e também um museu onde você pode expôr colecionáveis coletados pelo mundo. Também há uma loteria e atividades a mais nos cassinos.

Meu save contabilizou 39 horas, mas dessa vez eu não fiz o conteúdo opcional pós-endgame ainda, então no geral o jogo tem mais ou menos a mesma duração do remake de Dragon Quest 4.