Tirando o atraso: série Ys

Started by Strife, Mar 15, 2015, 17:20:04

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Strife


Recentemente, após jogar o fantástico Legend of Heroes: Trails in the Sky (um RPG que todo fã do gênero devia conferir, se ainda não o fez), resolvi tirar o atraso com a mais famosa das séries da Nihon Falcom, Ys. Criada em 1987, é uma das séries de maior longevidade do gênero, mas que sempre passou meio despercebida pelo grande público. Apesar de conhecê-la por fama desde o Super Nintendo, meu único contato com ela tinha sido no PS2, quando joguei Ys: The Ark of Napishtim (o sexto jogo na cronologia oficial), um RPG/Ação que na época tinha adorado pela sua simplicidade e jogabilidade frenética.


Sério, joguem.

Após Legend of Heroes, descobri que a Falcom passou a maior parte da última década renovando Ys, com versões remasterizadas e verdadeiros remakes que não tinham apenas o propósito de atualizar a série para uma nova geração, mas também "corrigir" a cronologia errante que faz a numeração de Final Fantasy das eras 8 e 16-bit parecer brincadeira de criança (existe nada menos do que três jogos diferentes que ostentam o nome de Ys IV, por exemplo).

Assim, desde o começo do ano que tenho jogado no meu tempo livre as melhores versões disponíveis de Ys, que se revelou uma das mais interessantes séries de RPG/Ação dentre os JRPGs, que se destaca não apenas em jogabilidade mas também numa trilha sonora consistentemente fantástica (de tal qualidade que nem me surpreendi ao descobrir que compositores do calibre de Yuzo Koshiro e Noriyuki Iwadare já trabalharam nela). E, se por um lado o enredo dos jogos individuais pode ser considerado, na maior parte, lugar comum, por outro Ys se destaca na criação de um mundo e mitologia que são cada vez mais explorados a cada novo jogo, e muito do charme da série consiste em explorar e mesmo conversar com NPCs, que quase sempre possuem algo de interessante pra falar e que revela mais do cuidado que o pessoal da Falcom teve ao criar esse mundo. E o fato dos jogos serem curtos para padrões de RPGs (raramente passando de marca de 10 horas) contribui em favor das histórias que os jogos contam, uma vez que existe pouco em questão de fillers tradicionais do gênero para alongar as horas de jogatina (algo que gostei e é cada vez mais raro, não é difícil personagens morrerem ao longo das aventuras de Adol, o que dá mais importância e urgência a tudo).


Ys: The Oath in Felghana

Dito tudo isso, o primeiro jogo que peguei para experimentar da série é um que muitos consideram o melhor, Ys: The Oath in Felghana. Se trata de um remake do Ys III, e sua história é interessante, pois durante muitos anos foi considerado a ovelha negra da série, abandonando a perspectiva tradicional por uma side-scrolling que, como Zelda 2: Link's Awakening ensinou, não pareceu agradar boa parte dos fãs do original. O remake utilizou a engine do Ys: Ark of Napishtim, refinando em muito a jogabilidade. É também muito difícil, mesmo jogando no Normal. Uma boa definição pra ele é "e se Ninja Gaiden fosse um RPG/Ação?". A alta dificuldade recompensa a habilidade do jogador e, quando essa não é suficiente, mesmo o grind por níveis é divertido dada a natureza frenética dos combates e como o jogo recompensa o jogador com bônus em STR, DEF e EXP por matar vários inimigos em sequência. A história simples mas bem contada (que conta até com sua parcela de boas reviravoltas) não perde tempo e, somando isso a todo resto (incluindo os chefes fenomenais), faz deste o meu favorito da série e um dos melhores RPG/Ação que já joguei, reunindo  o melhor de RPGs old-school com sistemas mais modernos muito bem refinados.


Ys Origin

Em seguida passei para Ys Origin, que apesar de ser um jogo "novo" seria o primeiro na cronologia, explorando a história que durante anos foi o background de Ys I e Ys II. Usando a mesma engine de Ys: The Oath in Felghana, é o primeiro jogo da série a não ter Adol como protagonista, mas três personagens diferentes (com estilos distintos entre si) e uma estrutura dungeon crawler que não é cansativa pois a torre em que se passa o jogo é repleta de chefes e andares variados. A narrativa é a mais ambiciosa que observei na série, oferecendo três pontos de vista com bons acontecimentos e reviravoltas (especialmente na história do terceiro personagem, que oferece a visão dos vilões e chefes exclusivos). A dificuldade normal é mais fácil que Ys: The Oath in Felghana, mas com vários níveis para selecionar (escolhi jogar com o terceiro personagem no Hard), aqueles que gostaram de Felghana sem dúvida deveriam conferir Ys Origin. Como curiosidade, o personagem Hugo (mago que ataca a distância) confere uma forte vibe de SHMUP ao jogo e utilizando sua magia amarela (bombas) chega mesmo a lembrar Silent Bomber (um dos melhores e mais underrated jogos de ação do PS1, feito pelo pessoal da CyberConnect e tão a frente de seu tempo que é um dos poucos jogos de ação 3D do PS1 que continua perfeitamente jogável hoje em dia).


https://www.youtube.com/watch?v=P51Xk56ekH4
Deixando esse link aqui pois quero viver num mundo onde mais pessoas conhecem Silent Bomber.

Após o término de Ys Origin, resolvi seguir a ordem cronológica da série com o primeiro Ys. Mais precisamente a versão inclusa na coletânea Ys I & II Chronicles, que são remakes dos dois primeiros jogos da série. A primeira coisa a destacar é o lado técnico, pois considero os gráficos 2D desses remakes entre os melhores que já vi no estilo. E também a trilha sonora de ambos jogos, possivelmente as melhores da série (além de oferecer a opção de escutar as músicas originais ou remixadas, sendo ambas excelentes).


Ys I & II Chronicles

Quanto aos jogos em si, o primeiro Ys é bem simples e curto mesmo para os padrões da série. Isso de deve ao fato de que, na verdade, Ys I e Ys II foram planejados como um único jogo mas acabaram divididos no lançamento, com Ys I servindo mais como uma introdução, enquanto Ys II é onde realmente é possível ver toda a visão dos criadores. Ys I é um bom jogo, mas Ys II é outro nível. É basicamente o mesmo que aconteceria anos depois com Arc the Lad I e II no PS1 (quem jogou os dois primeiros jogos dessa série certamente sabe do que estou falando).


Outra fantástica série de RPGs que merecia mais reconhecimento.

O ponto mais controverso dessa fase inicial de Ys certamente é o combate. O primeiro jogo da série a utilizar um sistema mais tradicional de RPG/Ação foi o Ys V de Super Nintendo. Antes disso, a série utilizava o "bump system", isto é, para causar dano nos inimigos o jogador precisa atingir os inimigos num certo ângulo (inexiste botão de ataque). No primeiro Ys isso pode ser um pouco frustrante, visto as limitações do jogo, mas uma vez que se acostuma o sistema proporciona uma jogabilidade rápida e fluida que, ao contrário do que o senso comum diria, necessita de habilidade. O jogador precisa fazer uso dos recursos limitados, observar seu nível em relação aos inimigos e ver a melhor maneira de prosseguir. Não é raro um nível ser a diferença entre um chefe impossível e a vitória. O último chefe de Ys I, no entanto, pode ser incrivelmente frustrante, uma vez que para derrota-lo só existe uma maneira que depende igualmente de habilidade e sorte. Felizmente, todos esses problemas foram corrigidos em Ys II, que possui uma versão melhorada do bump system, além de introduzir o uso de magias e um inventário mais flexível. Vale lembrar, contudo, que Ys I e II são essencialmente jogos old-school. Dungeons são labirintos, puzzles não são óbvias e é necessário conversar com NPCs para conseguir dicas de onde ir e como avançar.


Bump system do primeiro Ys, que seria muito melhorado em Ys II

Com Ys I & II devidamente terminados, o próximo jogo da cronologia (lembrando que já joguei Ys: The Oath in Felghana, o terceiro jogo na linha de tempo oficial) seria Ys: Memories of Celceta, a "versão definitiva" de Ys IV, que substituiu as anteriores.  Infelizmente Memories of Celceta é exclusivo, por enquanto, do VITA. Como não possuo o console, ainda não posso jogá-lo.

O próximo passo seria Ys V: Ushinawareta Suna no Miyako Kefin (Lost Kefin, Kingdom of Sand). Jamais lançado oficialmente fora do Japão, a versão original de Snes possui um patch em inglês feito por fãs. Porém, Ys V de Snes é considerado um dos piores da série, e tendo jogado um pouco da ROM traduzida, posso certamente ver as razões. Apesar de ser o primeiro Ys original (não versões melhoradas ou remakes) a utilizar controles tradicionais para atacar os inimigos, o jogo carece de qualquer traço da personalidade e charme característicos da série, parecendo apenas um RPG genérico de Snes (saindo dos lindos visuais 2D de Ys I & II Chronicles fica difícil aturar isso). É possível que eu ainda jogue essa versão pois estas foram apenas minhas impressões iniciais, mas considerando que a Falcom lançou uma remake de Ys V para PS2 nos moldes de Oath in Felghana e Ark of Napishtim, prefiro aguardar pra ver se algum dia esse remake recebe uma tradução (oficial ou não).


Ys: Memories of Celceta (VITA), o Ys V original de Snes e seu remake para PS2

Já tendo jogado Ys: The Ark of Napishtim (Ys VI), chegou finalmente a vez de experimentar Ys Seven de PSP, um jogo do qual só escutei elogios e mais elogios e certamente estou muito curioso em experimentar. Porém, com o término das minhas férias, é possível que eu demore a termina-lo (já li que ele é bem maior do que os Ys anteriores), portanto deixarei minhas impressões dele para o futuro. Até lá, eu recomendo a série Ys como uma das maiores surpresas que tive recentemente e que, nos tempos atuais de poucos RPGs japoneses que valem a pena, é uma excelente opção para os fãs do gênero.

Meu ranking de preferência da série:

1) Ys: The Oath in Felghana (Ys III, joguei a versão PC)
2) Ys: The Ark of Napishtim (Ys VI, joguei a versão PS2 mas também tem para PC)
3) Ys Origin (até onde eu saiba só tem para PC)
4) Ys II (versão Ys I & II Chronicles, joguei a versão PC)
5) Ys I (versão Ys I & II Chronicles, joguei a versão PC)


To be continued...

Baha

Quote from: Strife on Mar 15, 2015, 17:20:04
existe nada menos do que três jogos diferentes que ostentam o nome de Ys IV, por exemplo

3? Eu sabia de 2. Eram um de snes e um de pc engine, correto?

Strife

Teve um remake de Ys IV: Mas of the Sun para PS2 que nunca saiu do Japão, e que já era uma versão bem diferente tb.


https://www.youtube.com/watch?v=-Tx66ciM8z8

Baha

ah, achei que você estivesse contabilizando esse de PS2 como um dos remakes que corrigiam a cronologia.

night

Eu quase comprei o Celceta, ficou em promoção na PSN por alguns dias no começo do ano ou final do ano. Da pra jogar ele e curtir de boa sem ter jogado nenhum outro?

Strife

Dá. Ys tem um bom balanço entre a construção do mundo onde se passam os jogos, e na maneira como cada história se mantém por si própria. Como eu disse eu comecei pelo Ys VI e foi tranquilo. Com exceção de Ys I e II, que realmente devem ser jogados em ordem, o resto pode pegar qualquer um que vai poder aproveitar de boa.

Baha

A versão PC do Ark of Napishtim vai finalmente ganhar uma tradução oficial e ser lançada no steam.

Strife

Eu vi, ótima notícia para quem não jogou, dizem que a versão PC do Ark of Napishtim é superior à versão de PS2. Talvez até jogue de novo, até lá devo ter terminado Ys Seven :D

Baha

Eu sei que ela é definitivamente superior à versão de PSP. A opinião na comparação com a de PS2 é mais dividida. Mas certamente deve ser a versão mais bonita em termos de cenários, já que você pode jogar na resolução que quiser.

Strife

Update:

Terminei Ys Seven. Senti uma forte vibe de RPGs de PS1 ao jogar o mais novo Ys (cronologicamente falando), e isso é um grande elogio mas que não vem sem suas críticas. Se antes os Ys não perdiam tempo com tentativas artificiais de alongar o jogo e a história, agora há uma clara tendência a mais conteúdo que o normal para um Ys, e com isso veio práticas comuns dentro do gênero de alongar as horas de jogo. Meu save final tem quase 30h, o que é o triplo da média de duração dos jogos anteriores. Adol agora encontra e luta ao lado de um grupo mais tradicional de personagens, e há algumas partes que poderiam ser consideradas fillers (revisitar os santuários dos dragões, sério?).


Porém, isso não é de todo ruim já que a história simples continua interessante, com um bom clima de mistério e construção de mundo típicos da série. As aventuras de Adol agora o levaram ao reino de Altago, a versão ficcional de Cartago de Ys (para quem não sabe, as localidades de Ys são levemente baseadas em lugares do mundo real). A premissa básica é que existem cinco tribos nessa área: uma desapareceu sob circunstâncias misteriosas e outra, através do comércio marítimo, evoluiu ao ponto de se tornar um reino, enquanto as restantes continuam num nível mais "atrasado" de civilização. Uma onda de doenças e desastres naturais estão devastando a região, e Adol parte em outra aventura para restaurar o equilíbrio entre as tribos. Como de costume, é uma história contida que permite qualquer um começar a jogar sem medo de se sentir perdido por não ter jogado os outros jogos da série, mas há referências a jogos passados, bem como participações especiais de personagens já conhecidos. E os personagens são ótimos, todos com personalidade e backgrounds distintos que complementam o grupo muito bem (dou destaque para Aisha, raro caso de uma personagem feminina forte, independente e sem interesse amoroso como centro da sua história).


Os gráficos mostram as limitações do PSP, mas não são ruins. Pessoalmente, prefiro o estilo de jogos como Oath in Felghana e Ark of Napishtim, mas os modelos dos personagens são ótimos e tudo roda liso com raríssimos slowdowns, o que é muito importante para a jogabilidade frenética de Ys Seven. A música, por outro lado, achei a trilha sonora a mais fraca da série, sem nenhuma música marcante (o que não quer dizer que é ruim, as músicas são ótimas, é que o nível estabelecido por Ys nesse aspecto é realmente muito alto).


Mas é na jogabilidade que Ys Seven se destaca e também se diferencia dos Ys anteriores. Pela primeira vez oferecendo um grupo de personagens ao invés de um personagem solo, o jogo dá a opção de jogar com Adol e mais dois personagens que podem se trocados com um simples botão a qualquer hora em tempo real. Cada personagem possui seu próprio estilo de ataque que é mais eficiente contra certos tipos de inimigos e skills próprias, que forma a base das estratégias. Tudo se move incrivelmente rápido, os chefes continuam desafiantes e demandam inteligência e agilidade. Se há alguma crítica a fazer é que o jogo se parece mais agora com jogos como Tales ou Star Ocean (sem transição de batalha), mas mesmo isso vem com suas próprias qualidades que dão outra dinâmica à jogabilidade frenética da série, que continua presente, apenas modificada. A AI nunca atrapalha e há mais sidequests, um sistema de sintetização de itens simples e prático (como deve ser) e no geral mais conteúdo. Mostra uma nova direção pra série que não me incomoda nem um pouco, pois a qualidade se manteve e sem dúvida é um dos melhores jogos do PSP (se não for o melhor) e imperdível para fãs de RPGs.


Baha

E acaba de ser lançado o port a versão americana oficial de Ys VI pra PC! Tem no GOG, Humble Store e Steam. Vem com uns extras típicos da XSEED.


Update: Bom, eu peguei ele e joguei uns 5 minutos. Realmente essa versão tem várias vantagens sobre aplicar a tradução no original. Suporte nativo a widescreen, mais opções de configuração, um novo modo de jogo mais difícil e ainda vem com um artbook. O jogo roda absolutamente liso em 1080p@60fps com tudo no máximo, incluindo anti-aliasing e anisotrópico. Bom, nada surpreendente pra um game de 2003, mas ainda assim é algo ótimo.