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Tales of Symphonia

Started by Baha, Feb 05, 2017, 22:30:16

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Baha



Tales of Symphonia foi lançado originalmente em 2003 para o Game Cube. Eu joguei a versão do Steam, baseada na versão de PS3, baseada na versão de PS2... Essa versão estava bem quebrada quando lançou, mas tanto patches oficiais quanto não oficiais resolveram quase tudo.

Trata-se do primeiro jogo 3D da franquia e, levando em conta a época, a plataforma original, seu acabamento e sua magnitude, eu consideraria uma produção AAA.

Enredo

A história começa no mundo de Sylvarant, onde Colette, a "escolhida da regeneração" vai receber um oráculo dos anjos e iniciar sua jornada para salvar o mundo dos malignos Desians que estão maltratando a humanidade! Seus amigos Lloyd e Genis acabam dando um jeito de conseguir ir junto e então todos iniciam uma épica aventura que... obviamente não será tão simples assim.

A história do game é cheia de intrigas e reviravoltas, mas tratadas com o tipo de maturidade e profundidade que você pode esperar de um anime. Há algumas camadas de conspirações entrelaçadas e as vezes conflitantes, o que rende situações interessantes, mas não é algo tratado com o mesmo cuidado que um Xenogears por exemplo.



Um problema é que o Symphonia é talvez o primeiro Tales que se preocupa especificamente em "passar uma mensagem" em sua história. Nesse caso o tema é "discriminação" e em alguns momentos isso é tratado com uma sutileza adequada, mas tem partes em que o jogo martela isso na sua cabeça de uma forma tão forçada e teatral que é irritante e um pouco vergonhoso.

Tales of Eternia foi um jogo que eu gostei bastante no geral, mas que pra mim teve alguns sérios problemas de ritmo e perdeu seu gás na reta final, com algumas situações extremamente sem sal e uma condução desinteressante. Parece que os produtores de Symphonia pensaram o mesmo, pois aqui é possível notar uma grande preocupação em não deixar isso acontecer, a ponto de empilhar clímax atrás de clímax numa tentativa de manter a intensidade e o senso de escala e importância da reta final. Apesar de ficar aparente esse esforço proposital meio exagerado, o bom é que no final das contas isso funciona, e deu pra seguir na reta final com ânimo durante eventos que passavam relevância e relação com seu grupo.



Uma coisa que ajuda muito é o fato de o vilão aqui ser extremamente mais presente e diretamente envolvido com os eventos que afetam seu grupo que o de Tales of Eternia, ajudando a desenvolver aquele elo de interesse.

Muitas das interações entre os personagens são feitas através das skits. São pequenas cenas em que os retratos dos personagens conversam sobre assuntos de maior ou menor importância, trazendo desde exposição da história e objetivos, até uma visão mais profunda das personalidades de alguns personagens e suas relações. Alguns skits são obrigatórios e acontecem automaticamente em certos locais e situações. Outros são opcionais e você pode vê-los apertando um botão em momentos aleatórios em que uma indicação aparece na tela. E por fim, tem pontos espalhados pelo overworld onde você pode ver um skit especial envolvendo apenas Lloyd e um outro personagem que te permite uma decisão no diálogo e afeta o nível de afeição entre eles. Eventos importantes da história ainda são tratados com cenas envolvendo os modelos e cenários, com o devido nível de produção, mas pro resto, os skits garantem que haja muito conteúdo de forma que seja algo rápido e pouco intrusivo para o jogador, e barato para equipe de produção.



Os personagens são legais e carismáticos em geral. Eles possuem personalidades bem distintas que a princípio podem parecer estereótipos, mas pelo menos alguns deles acabam tendo vários outros aspectos e características explorados durante os eventos da história, as skits e os eventos opcionais, adicionando alguma profundidade. Nem todos são explorados com tanta profundidade, ou de forma bem executada, mas no geral o resultado é positivo.

A condução da história e alguns eventos possuem pequenas ramificações (e pelo menos uma ramificação mais importante) afetadas pela afeição entre os personagens e Lloyd. Há várias decisões que você pode tomar em diálogos que afetam os níveis de afeição, e acontece um conflito entre personagens. A decisão que deixa alguns felizes normalmente incomoda outros.



Aliás, em todas essas ocasiões e principalmente nas skits acontece bastante interação entre todos os personagens do seu grupo, explorando muito as relações entre eles, de uma forma bem mais abrangente que a maioria dos jogos do gênero.

Gráficos

O visual dos personagens usa Cell Shading, lembrando um anime bem estilizado e com grossas bordas pretas (principalmente na versão game cube). O resultado é bem bacana e combina que o tom de anime que o jogo (e a série em geral) passa.

Já os cenários são inconsistentes. Alguns elementos de alguns cenários, como o solo do primeiro vilarejo, tem texturas incrivelmente borradas e de baixa resolução, enquanto outros são muito mais caprichados. Os que são bem feitos possuem um estilo muito interessante, parecendo pinturas a óleo, algo que encaixa surpreendentemente bem com o cell shading de anime dos personagens. O visual geral também, em seus momentos mais inspirados, parece ser exatamente a transposição para 3D esperada pro belo estilo visual desenhado à mão de Tales of Eternia.



Você não tem controle sobre a câmera, que tem ângulos bem padronizados nos cenários, mas isso garante que tudo o que precisa estar visível sempre esteja de fato.

O overworld não tem nada de muito especial pra geração. É bastante simples e os tons muito pastéis das cores o deixam com um aspecto meio apagado. Além disso o draw distance nele é relativamente baixo e no fim das contas ele não parece uma grande evolução com relação aos melhores overworlds da geração anterior. Ele cumpre o seu papel, e a escala das coisas faz parecer que tudo está "menor e mais perto" que num Final Fantasy por exemplo, além de as cidades serem modeladas a partir do seu visual interno. Isso por outro lado faz o mundo parecer meio pequeno.



No overworld você também pode controlar a câmera, mas eu achei que de maneira geral ela fica muito próxima do personagem. Existe um "long range mode" com suas próprias características de gameplay, mas eu ainda assim não achei ideal.

A versão de Game Cube rodava a 60fps, exceto no overworld, mas todas as outras versões são travadas em 30.

Som

As músicas do jogo são boas de modo geral, mas bem poucas tem algum destaque que chama mais atenção e de fato nenhuma delas grudou na minha cabeça. Agora, após ter terminado o game eu não me lembro de nenhuma em específico e nenhuma delas entrou na minha lista de favoritas também.



Os diálogos são dublados, mas só durante eventos da história central, como em Final Fantasy XII. Há boas vozes, mas as vezes o texto não colabora e leva a algumas cenas meio dolorosas de assistir.

Gameplay

O gameplay básico do jogo não destoa de forma significativa do resto da série. Um aspecto particular é uma habilidade que você pode usar nas dungeons, através de um anel mágico, para resolver alguns puzzles e que ganha variações dependendo de cada dungeon.

O começo do jogo não prende tão bem o interesse quanto poderia, mas após um certo ponto ele melhora bastante e estabiliza num ritmo de progressão bem agradável. Tales of Symphonia é um jogo grande, com muitos eventos principais e secundários.



Uma coisa que eu gostei bastante é o modo como em várias partes do jogo ele abre seus próximos eventos para serem explorados de forma pouco linear. Não apenas há uma boa dose de conteúdo secundário e opcional bem distribuída por toda a duração do jogo, mas mesmo o conteúdo principal pode ser muitas vezes abordado em ordens diferentes, inclusive com diferentes eventos e quests transcorrendo em paralelo e ficando a seu critério decidir quais serão concluídas primeiro, e o jogo encontra formas de sempre encaixar tudo. Lembra bastante a segunda metade Final Fantasy VI, mas aqui são várias "bolhas" com essa estrutura espalhadas pelo jogo, interligadas por sessões lineares de eventos importantes.



O conteúdo opcional e paralelo também é bastante variado, indo de pequenas cenas inconsequentes até cadeias de side quests que exploram algo importante ligado a algum personagem ou ao enredo principal, e algumas vezes isso pode te levar a bons equipamentos, magias e superbosses.

Combate

Não há combates aleatórios. Inimigos (que representam um grupo em combate) sempre aparecem no cenário, tanto no overworld quanto nas dungeons. No overworld eles brotam aleatoriamente ao seu redor e podem ter comportamentos que variam entre te ignorar, te perseguir ou se afastar. Quanto mais tempo faz que você não luta, mais provável é que eles te persigam. Nas dungeons os inimigos e os locais onde aparecem são fixos, bem como os padrões de comportamento de cada um. O grupo exato que você enfrenta em combate pode ter algumas variações porém, mesmo encostando de novo no mesmo inimigo respawnado no cenário. Aliás, o respawn só ocorre ao mudar de tela.



O combate funciona com basicamente mais um passo na evolução do sistema clássico da série. Dessa vez há posicionamento e movimentação em 3D, e isso é levado em conta para as áreas de efeito das magias e etc, mas em geral é extremamente similar a Tales of Eternia.

Tudo parece muito caótico no começo, mas após um tempo é possível se acostumar a "ler" as partes importantes do que está acontecendo e se orientar o suficiente para reagir a tempo às ações dos seus aliados e inimigos. Eu joguei o tempo quase inteiro controlando o Lloyd, mas é possível trocar o personagem ativo e alguns têm estratégias bastante diferentes, baseados nos seus timings de ataque em suas skills e magias.



O combate tem uma boa profundidade e o uso adequado de posicionamento, timing, defesa e combos pode te permitir vencer um combate difícil sem precisar de grinding. Infelizmente isso só ocorre em pouquíssimas ocasiões durante o jogo. Mais especificamente no começo do jogo, nos combates solo da arena e nos superbosses. Durante o resto do tempo, bastando eu enfrentar a maioria dos combates que apareciam no caminho, eu estava sempre mais que preparado para vencer quase todas as batalhas sem precisar fazer muito mais do que um simples button mashing.

Conclusão

Tales of Symphonia é um grande jogo que honra suas origens e coloca na sua geração original um representante bastante clássico de eras passadas, devidamente polido e atualizado. Me pareceu o mais consistente e bem acabado jogo da sua série até então, e de fato o melhor e mais agradável de jogar e acompanhar de maneira geral no final das contas. Ele não acerta em tudo, contendo tanto alguns problemas típicos da série quanto alguns particulares seus, mas o conjunto da obra é bastante satisfatório.