Arc the Lad: Twilight of the Spirits

Started by Baha, Aug 27, 2017, 18:30:35

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Baha



Arc the Lad: Twilight of the Spirits (que vou chamar de Arc the Lad 4 no restante do review) foi lançado em 2003 para o Playstation 2 e é o primeiro (ou único, dependendo dos seus sentimentos acerca de Arc the Lad: End of Darkness) da série na plataforma, sendo que os 3 anteriores eram jogos do primeiro Playstation.

Enredo

Background

Arc the Lad 4 se passa séculos após os anteriores, numa época em que os espíritos elementais não estão mais presentes no mundo, mas seu legado está nas Spirit Stones, pedras usadas para fornecimento de energia e poder mágico.

Nesse mundo, desde os eventos dos jogos anteriores um grande acontecimento foi o aparecimento dos Deimos, espécies inteligentes e razoavelmente civilizadas de criaturas que surgiram através de uma evolução acelerada de alguns monstros por meio das spirit stones. Devido ao seu comportamento frequentemente violento, territorialista e tribal, os Deimos não estabeleceram convivência com os humanos e o mundo acabou sendo dividido em territórios dominados por algum dos dois povos. O mais próximo de uma coexistência pacífica são frágeis tréguas entre esses territórios.



E é no meio disso tudo que começam as histórias dos dois protagonistas do jogo, Kharg e Darc, que se alternam para mostrar diferentes pontos de vista no desenrolar de uma aventura iniciada com o surgimento de uma nova ameaça.

Comentários

O jogo segue uma estrutura com duas aventuras paralelas, cada uma com um protagonista e seu próprio grupo, mas que se entrelaçam eventualmente com o andamento do jogo. Lembra bastante a narrativa de Breath of Fire 4, mas aqui ambas as histórias recebem igual foco e desenvolvimento. O avanço é todo dividido em capítulos e cada capítulo alterna de um protagonista para outro. Uma coisa bem legal é que cada um deles lida com situações bem diferentes e recebe influências muito distintas de eventos, personagens e o ambiente em suas motivações. É um conflito cultural muito grande entre as duas realidades.

Um problema dessa estrutura é que a alternância forçada entre as histórias faz com que os eventos principais do enredo avancem relativamente devagar por uma boa parte do jogo.

O mundo do jogo mudou bastante desde a época de Arc 3 principalmente em termos políticos, mas também geograficamente. Algumas regiões ainda são reconhecíveis, mas de forma geral quase tudo da época dos anteriores ficou nas lendas e livros de história.



Mesmo assim, a história e os eventos centrais do jogo possuem diversas semelhanças com os anteriores, principalmente com Arc 2, e também parecem trazer influências (intencionais ou não) de outras obras, como Final Fantasy 6, onde é possível notar uma grande similaridade no background dos protagonistas e da raça dos Deimos.

Os dois grupos são formados por diversos personagens bastante carismáticos, apesar de nem todos terem um desenvolvimento de background devidamente aprofundado. Dentre outros personagens que se envolvem na história, o "destaque" fica por conta de uma que consegue a façanha de ser sequestrada mais vezes que a Yuna de FFX.

A história estabelece um conflito bem intenso entre culturas e personagens, e por mais que seja visível um certo cuidado para desenvolver sua solução e seu fechamento, as amarrações finais ainda acabaram soando mais corridas e superficiais do que deveriam para serem convincentes.



Ainda assim, o enredo como um todo é tratado de forma bem melhor que em Arc the Lad 3, evitando situações excessivamente bestas e irritantes. O jogo deixa o humor meio de lado na maior parte do tempo, mas apesar disso o mundo não chega a ser depressivo demais.

A quantidade de diálogos e a duração de cada situação também me passaram a sensação de serem bem equilibradas, com quase nada se estendendo mais do que deveria ou parecendo muito corrido.

De forma geral, Arc the Lad 4 passa uma impressão de ser "menor" e menos épico que o segundo jogo. Em Arc 2 a escalada de eventos realmente parecia atingir, num ritmo certo, proporções imensas. Aqui as coisas escalam bem devagar durante um bom tempo e aceleram muito perto da reta final. Ainda assim, o jogo está muito mais próximo do segundo nesses aspectos comparado a Arc the Lad 3.

Gráficos

O jogo é visualmente bem bonito de forma geral. Os personagens, principalmente, são bastante detalhados e bem modelados. Os cenários são competentes em geral, mas alguns acabam tendo um visual estranhamente simplório, enquanto outros possuem um detalhamento que condiz mais com os personagens. Fora isso a qualidade visual é bastante consistente.



Não chega exatamente ao mesmo nível de Final Fantasy X, mas ainda assim a qualidade geral está bem acima da maioria dos outros jogos do gênero na plataforma. A câmera fixa ajuda a manter tudo estável também.

Os mapas das regiões seguem um estilo semelhante aos de Arc 2 e 3, mas agora a elevação da geografia é modelada em 3D. O resultado final não ficou muito bom, e em diversos locais há texturas de baixa resolução ou que se esticam de maneira estranha pelo terreno. É como usar o google earth em localidades ainda mal mapeadas.



Em combate há algumas magias e técnicas com visual mais exagerado, bem típicas dos RPGs de PS2, e devidamente bem apresentadas e animadas.

Eu não gostei muito dos retratos dos personagens. Há algo neles que me passa uma sensação meio amadora.

Uma coisa que me incomodou bastante foi o fato de tudo rodar travado em 30fps. Depois de diversos jogos rodando a 60, voltar a 30 foi algo que eu demorei um pouco para me reacostumar.

Som

A trilha sonora possui algumas músicas bem grudentas, mas não são tantas que se destacam tão bem assim.

Alguns poucos diálogos mais importantes são dublados, além de os personagens terem diversas falas em combate. A dublagem é melhor que, por exemplo, Star Ocean 3, mas ainda há diversas cenas estranhas e algumas até dolorosas, com textos muito forçados sendo declamados de forma totalmente mal dirigida.



As vozes em si são ok de forma geral, mas um personagem específico tem uma "voz de câncer na garganta" que definitivamente faria inveja ao Christian Bale!

Gameplay

Exploração

O gameplay de exploração nas cidades, dungeons e áreas exploráveis em geral é bem padrão. Você pode conversar, comprar, vender, acessar seu menu e intgeragir com personagens e objetos. Puzzles não ficam mais complexos que apertar botões para abrir passagens. A câmera é totalmente fixa, não podendo ser nem mesmo girada, e quase sempre fica em um ângulo semelhante a Persona 2, Wild Arms 2 e 3 e Breath of Fire 3 e 4.

No mapa do jogo, ao contrário de Arc the Lad 2 e 3 onde era possível mover o personagem livremente pelo mapa, aqui você apenas move um cursor entre as áreas disponíveis pelas rotas possíveis. As rotas podem te forçar a passar por áreas onde podem ocorrer combates aleatórios. Você eventualmente ganha acesso a transportes para poder viajar entre diferentes regiões, mas dentro de cada região eles sempre pousam em áreas específicas e é preciso percorrer o caminho até eles quando precisar usa-los. De forma geral não houve muita regressão com relação aos anteriores, como teria havido se eles usassem overworlds completos, mas a série sempre teve um uso simplificado de mapas regionais.



As poucas dungeons do jogo são muito curtas e lineares, raramente tendo mais de 3 combates obrigatórios, lembrando a abordagem de Arc the Lad 3 e chegando a ir além na simplificação. A única exceção é a dungeon final do jogo que é maior, mais complexa e com mais combates, lembrando um pouco o que era visto com frequência em Arc the Lad 2. Embora Arc 2 tenha exagerado um pouco, pois tinha uma estrutura de JRPG tradicional com combates de SRPG, o que gerava situações demoradas e cansativas, Arc 4 vai para o outro extremo e torna sua exploração muito simplifica e superficial, até mais que no terceiro jogo. Não chega ao nível do primeiro, mas ainda assim poderia ser algo um pouco mais aprofundado.

O inventário do jogo é dividido em um estoque geral, onde os itens stackam e não há limitação (exceto um máximo de 99 por stack) e os inventários individuais dos personagens, que variam entre 8 e 16 slots dependendo de cada um e onde nada stacka. Em combate você só tem acesso aos inventários individuais, mas eles costumam ser mais que suficientes. Toda a dor de cabeça com gerenciamento que havia em Arc the Lad 2 foi eliminada aqui, como já havia sido eliminada no terceiro jogo, e você só precisa lembrar de distribuir bem as coisas antes dos combates importantes.

As armas dos personagens são fixas e cada personagem tem 3 slots de "weapon parts" e 3 slots de acessórios. As partes para armas dão desde bônus de ataque, efeitos de status e até modificações no alcance. Os acessórios geralmente aumentam defesa, conferem resistências e às vezes possuem alguns efeitos mais particulares. Nada disso ocupa espaço junto com itens normais no inventário.



Alguns tipos de equipamentos possuem tiers definidos e naturalmente você encontra substitutos melhores durante o jogo, mas diversos outros não se encaixam tão facilmente numa relação de objetivamente melhores ou piores entre si, e seu uso vai depender mais das situações e preferências. Isso é mais próximo do que ocorria no segundo jogo, já que no terceiro era tudo hierarquizado de uma maneira bem simples.

Dinheiro no jogo geralmente é suficiente para suas principais necessidades, mas sem sobrar muito. Por outro lado não há mais money sinks e acaba não fazendo muito sentido querer acumular demais.

Ao contrário dos dois anteriores, Arc the Lad 4 tem muito pouco conteúdo opcional. Quase tudo está concentrado nas 4 arenas em que você pode lutar, cada uma com 3 modalidades. Em geral o prêmio final da modalidade mais avançada de cada uma é muito bom.

Eventualmente você vai ter uma ou outra sidequest minúscula (coisa que se resolve em 2 minutos sem sair da cidade) e 2 quests que envolvem coletar artefatos semi-ocultos, mas com os quais você simplesmente vai trombar à medida que avança na quest principal.



Fora isso, todo o conteúdo do jogo está na quest principal mesmo, que tem um avanço totalmente linear. Áreas opcionais para combates existem, como de costume, mas não há nada lá fora a possibilidade de grinding. Nem a hunter's guild e nem qualquer equivalente dão as caras por aqui, o que é uma pena. Arc the Lad 3 havia exagerado ao fazer a sua progressão girar inteira em torno da guilda, mas pelo menos algumas side quests do gênero seriam bem vindas no 4.

Combate

A principal mudança no combate com relação aos jogos anteriores é que agora o campo de batalha não é mais dividido em tiles, e ao invés disso tudo se tornou contínuo, com raios de movimentação e área de efeito sendo circulares. Funciona bem de forma geral, mas um problema é que isso torna os combates em geral bem mais demorados, pois você pode passar a gastar bastante tempo tentando ajustar seu posicionamento de forma a maximizar a área de efeito de um ataque, já que alguns milímetros podem ser a diferença entre acertar dois inimigos ou um só. Lembra bastante os combates de Breath of Fire: Dragon Quarter.

Agora todos os seus personagens disponíveis no grupo atual, durante os capítulos que alternam entre os dois protagonistas, sempre podem (ou devem, no caso de combates importantes) participar dos combates, não sendo mais necessário deixar ninguém de fora. A única exceção é que em diversos combates importantes da história central não é possível utilizar os 2 personagens secretos do jogo.

Não existe mais um sistema de captura e treinamento de monstros. O mais próximo disso é um personagem específico que pode dominar até dois inimigos fracos durante um combate, que ficam sob seu controle como se fossem parte do grupo, mas nada disso persiste entre combates.



Agora há uma espécie de limit break no jogo. Personagens possuem um medidor de "tensão" que os deixa com uma aura colorida por alguns turnos quando fica cheio. Ao atacar um inimigo que está no alcance de outro personagem, você gasta essa aura para fazer um ataque duplo entre esses personagens, que em geral é extremamente forte.

Os itens em combate caem no chão quando você derrota um inimigo ou destrói um objeto do cenário e é preciso gastar uma ação para pegá-los no local onde ficaram. Qualquer coisa não adquirida ao final do combate é perdida. Essa ação não encerra o turno, mas encerra a movimentação do personagem. Ainda é possível fazer mais uma ação, como um ataque um magia, mas sem sair daquele lugar.

O MP do jogo são as spirit stones. Isso dá uma dinâmica diferente ao recurso, pois agora se trata de um item físico que você pode acumular no estoque principal e redistribuir entre os personagens.



A dificuldade geral do jogo é mais baixa que nos anteriores, e não ocorre aquele aumento desproporcional na reta final que era o principal problema do segundo. Ajudou o fato de eu ter feito as arenas e pego os personagens secretos. Se tenho algo a reclamar, é a batalha contra o último chefe, que eu achei chata e arrastada, além de em geral decepcionante depois dos dois jogos anteriores.

Conclusão

Depois de um terceiro jogo com um ritmo e uma narrativa muito incomuns para os padrões da série, Arc the Lad: Twilight of the Spirits retoma uma estrutura mais próxima do segundo jogo, e de forma geral é bastante bem acabado e executa com competência sua proposta.

Ele não alcança exatamente as mesmas qualidades que o segundo jogo exibia em seus melhores momentos e não passa a mesma grandiosidade e o mesmo impacto, mas corrige diversas irritações dos jogos anteriores e evolui alguns aspectos sem se alienar tanto às suas bases como ocorreu em Arc the Lad 3, de forma um pouco semelhante a como Wild Arms 5 atuou com relação a Wild Arms 4. A carência de conteúdo opcional e a extrema linearidade foram os principais pontos que o colocaram abaixo do 2 para mim. Além disso Arc the Lad 2 possuía uma complexidade mais profunda em seus sistemas, sabendo implementar ela de uma forma adequada, o que faz com que a simplificação dos jogos posteriores não conte como uma vantagem.



Arc the Lad 4 possui uma duração razoável. Meu save contabilizou 54 horas, mas eu enrolei bastante, nunca fugi de combates e completei todos os combates de todas as arenas. Deve ser possível terminar em menos de 40 horas ignorando elas e/ou se apressando um pouco.

Strife

Excelente review Baha, mas um review de Arc the Lad 4 (ele é conhecido assim no Japão, nos EUA que colocaram o subtítulo no lugar, igual ao Breath of Fire V) sem mencionar a personagem Bebedora está, infelizmente, incompleto :P

Zuera, claro, é que adoro essa personagem. Aliás, eu adoro o enredo e personagens desse jogo, é como se X-Men fosse um JRPG, com muita coisa legal sobre preconceito e aceitação, de ambos os lados. E bem escrito. Talvez, por essa razão, eu discorde de vc quando disse que o ritmo caminha lento durante grande parte, achei importante a preparação para os acontecimentos posteriores.

Não tenho como ser parcial, esse é realmente um dos meus jogos favoritos. Melhor que Arc the Lad II? Não. Mas chegou perto, ao meu ver.

Baha

Quoteele é conhecido assim no Japão, nos EUA que colocaram o subtítulo no lugar, igual ao Breath of Fire V

Colocando lenha na fogueira, eu diria que foi uma decisão correta no caso de BoF, mas pra Arc realmente me pareceu desnecessária a mudança.

Quotesem mencionar a personagem Bebedora está, infelizmente, incompleto :P

Ah, eu tenho evitado me aprofundar na análise de personagens específicos nos meus reviews ultimamente para evitar spoilers. Você é a segunda pessoa que eu vejo com essa opinião sobre a Bebedora. Pra mim ela é de fato um dos personagens mais, digamos, "únicos" do jogo e talvez da série, mas não gerou em mim esse mesmo nível de apego.

Acho que os que eu mais gostei do grupo foram Maru (mais por gameplay que história), Volk (porque ele me lembra um Paundit antropomorfizado) e principalmente a dupla Delma + Camellia interagindo.

Aliás, de forma geral todo o lado do Darc na história foi bem mais legal que o do Kharg.

Quoteé como se X-Men fosse um JRPG

Eu diria que vai além, pois no caso de X-Men, fora características físicas e poderes, os mutantes são idênticos a humanos. No caso dos Deimos existe toda uma diferenciação instintiva e psicológica inata que coloca um outro nível de complexidade em cima da coisa toda. Isso inclusive é a raiz da minha reclamação dizendo que apesar do roteiro ter cuidado e boa execução pra lidar com a resolução dos conflitos, isso não foi suficiente pra tornar essa "estabilização" final realmente convincente. Digamos que foi um típico caso em que os caras "wrote themselves into a corner" e criaram uma situação onde seria MUITO improvável um final ao mesmo tempo pacífico e verossímil. Fizeram o melhor que puderam nesse sentido, mas ainda assim...

QuoteTalvez, por essa razão, eu discorde de vc quando disse que o ritmo caminha lento durante grande parte, achei importante a preparação para os acontecimentos posteriores.

A lentidão pode ter sido necessária para a história que queriam contar, mas pra mim isso não muda o fato de ter sido lentidão. Existem jogos com ritmos naturalmente arrastados, vide os Persona 2, Mas no caso de Arc a série tinha o segundo jogo pra contrastar, e a narrativa com um ritmo de escalada mais amplo e suave dele acabou parecendo mais agradável.

QuoteMelhor que Arc the Lad II? Não. Mas chegou perto, ao meu ver.

Sim, com certeza achei ele bem melhor que o 3 pelo menos. E em termos de escopo, custaria uma fortuna fazer um jogo tão "grande" quanto o 2 com a qualidade técnica do 4. Provavelmente o jogo foi o melhor que tenha sido viável fazer no PS2 com o investimento em valores de produção que deram a ele. O próprio FFX abusou de todos os truques que conseguiu encontrar pra economizar recursos e parecer maior do que realmente era. FFXII tentou, à sua própria maneira, não economizar em nada e todos viram o development hell onde ele caiu.

Strife

QuoteAh, eu tenho evitado me aprofundar na análise de personagens específicos nos meus reviews ultimamente para evitar spoilers. Você é a segunda pessoa que eu vejo com essa opinião sobre a Bebedora. Pra mim ela é de fato um dos personagens mais, digamos, "únicos" do jogo e talvez da série, mas não gerou em mim esse mesmo nível de apego.

De boas, acho justo não comentar em específico para evitar spoilers (eu tento fazer o mesmo), na verdade esperava só uma menção ou algo do tipo da Bebedora, lembro de q na época do lançamento ela já era bem popular entre os fãs mesmo. Mas eu de fato adorei a personagem, não só do ponto de vista do gameplay mas tb da sua personalidade única, como colocou.