[Review] Shadow Hearts 2 (PS2)

Started by Baha, Jun 17, 2018, 04:34:03

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Baha


Shadow Hearts: Covenant, ou Shadow Hearts 2, foi lançado em 2004 para o Playstation 2, novamente produzido pela mesma empresa de Koudelka e do primeiro Shadow Hearts(renomeada de Sacnoth para Nautilus).

Enredo

Background

Shadow Hearts 2 se passa durante a primeira guerra mundial, novamente no mesmo universo fictício baseado no nosso do jogo anterior.

A história começa quando Karin, uma soldada alemã, é enviada junto com Nicolai, um representante do Vaticano, para o vilarejo de Domremy, para eliminar um demônio que que habita o local e frustrou uma invasão anterior do exército.



Chegando ao local eles descobrem que o demônio é na verdade Yuri, protagonista do primeiro jogo, e Nicolai se revela um homem inescrupuloso usando métodos desleais para atrair Yuri para o combate, incluindo o sequestro de uma criança do vilarejo, e acaba conseguindo amaldiçoá-lo com uma relíquia do vaticano no processo.

Karin decide se voltar contra Nicolai e com a ajuda de outro morador da cidade eles conseguem fugir. A partir daí começa uma jornada de Yuri e Karin para escaparem de Nicolai e tentarem desvendar quem ele realmente é, além de como funciona e como pode ser removida essa maldição. As proporções da situação e do envolvimento dos personagens crescem à medida que as descobertas vão sendo feitas, culminando em uma história de grandes proporções que se entrelaça profundamente com a do jogo anterior.

Comentários

Apesar de ser uma continuação direta, Shadow Hearts 2 é um jogo bem mais leve e bem humorado que o primeiro, principalmente durante suas side quests e o conteúdo opcional em geral.



Os assuntos mais sombrios e pesados ainda estão presentes no enredo principal, mas focam muito mais em dramas psicológicos que em terror, assumindo uma temática mais melancólica e depressiva. A atmosfera do mundo agora é mais leve, com muitos personagens secundários vivendo vidas relativamente normais e eventos sobrenaturais sendo menos frequentes e, quando ocorrem, geralmente estão centralizados nos protagonistas.

A parte bem humorada da história agora tem um tom muito mais pastelão, abandonando quase completamente a sobriedade de Koudelka. De situações bizarramente cômicas a quebras da quarta parede, o jogo é recheado do humor japonês geralmente visto em animes. Algumas situações funcionam para esse propósito, enquanto outras são atuadas de uma maneira tão constrangedora e desconfortável que me lembra das "tentativas" de humor de Xenosaga 2.



Esse forte contraste com os anteriores e com as partes sérias desse mesmo jogo chega a ser estranho e deslocado algumas vezes, atrapalhando as suspensão de descrença nesse mundo, algo de que o jogo anterior não chegava a sofrer.

Outro ponto negativo é que o jogo apresenta algumas quebras no ritmo da narrativa que não são tratadas de forma ideal. Eu me lembro de pelo menos duas ocasiões em que isso foi perceptível. Não é o suficiente para estragar o jogo, mas as transições entre cada clímax e os arcos seguintes da história poderiam ser mais suaves e satisfatórias.



Sobre a ambientação como um todo, apesar de o jogo se passar durante a primeira guerra mundial, quase não há interação entre o grupo e os eventos principais do jogo com a guerra. Quase todos os lugares por onde eles passam não estão sendo diretamente afetados, ou suas batalhas estão sendo realizadas longe de onde seus personagens estão. A guerra é bastante mencionada, mas definitivamente é mais um pano de fundo para o mundo que algo relevante para a aventura em si.



A história novamente se passa parte na Europa e parte na Ásia, dessa vez te levando a vários países da Europa e se focando no Japão (ao invés da China do jogo anterior) ao te levar para a Ásia. Dessa vez há um contato bem mais amplo com diversos países e cidades da Europa, passando por Paris, Florença, Southampton e até Petrogrado na Rússia. A forte licença poética de ninguém nunca ter problemas com idiomas está mais evidente do que nunca aqui.

O grupo do jogo é bem variado e carismático, inclusive superando o do anterior. Ele também revela fortes liberdades criativas com a história do nosso mundo e seu folclore, com personagens indo desde um lobo, passando por Gepetto (talvez não "o" Gepetto de Pinóquio, mas muito próximo), e até mesmo a princesa Anastasia Romanov da Rússia!



Cada personagem tem seu espaço nos holofotes, inclusive com pelo menos uma side quest dedicada a seu backstory, e acaba tendo sua personalidade explorada nesses eventos. As personalidades em si são exageradas em cima de arquétipos, chegando a desculpas cômicas em alguns casos, mas cumprem seu papel. A única exceção é Kurando, o personagem que entra para o grupo no Japão. Ele é o mais apagado e mais sem graça, além de aparecer muito tarde.

Os vilões e personagens secundários seguem na mesma linha, envolvendo personalidades históricas e folclóricas, todas fortemente "adaptadas" para o universo do game.



No fim das contas, isso tudo constrói um mundo bastante rico e interessante de conhecer e acompanhar, apesar do contraste desequilibrado entre humor e seriedade.

Gráficos

Com uma evolução surpreendente em relação ao primeiro Shadow Hearts, que era bastante decepcionante no quesito visual, o jogo apresenta gráficos muito bons que realmente tiram proveito do potencial da plataforma.



Os cenários pré-renderizados foram abandonados e agora o jogo é totalmente poligonal, utilizando uma câmera automática e tendo um estilo geral muito semelhante a Final Fantasy X. Algumas localidades são realmente bonitas, enquanto em algumas outras é possível notar alguma "economia" em termos de modelos e texturas. Mesmo assim a apresentação geral é muito competente.



A variedade de cenários e localidades distintas também é muito boa, com raríssimos casos de repetição de modelos e texturas, apresentando uma composição artística geralmente bastante sólida. Algumas construções em cidades grandes podem parecer meio "secas" demais, porém. O tamanho geral de algumas cidades é bem maior que qualquer coisa de Shadow Hearts 1, com diversas áreas e detalhes.



Os modelos dos personagens também são muito bons, anos luz à frente do jogo anterior e facilmente comparáveis aos melhores jogos da Squaresoft na época. A movimentação também é bem mais agradável. Em combate também há magias com visual épico e cheio de efeitos.



O jogo minimizou o uso de CGs, que aliás agora possuem uma qualidade visual bem melhor, em troca de cutscenes em tempo real. Essas cutscenes aliás são todas plenamente animadas e encenadas, sem economias nesse aspecto, com exceção apenas de conversas de pouca importância, que ainda assim mostram personagens gesticulando de maneiras bem variadas.

Um sacrifício foi feito em nome de tudo isso, porém: O jogo agora roda a 30 fps, contra 60 do jogo anterior. Mas tendo em vista todas as melhorias, é uma troca perfeitamente aceitável.

Som

Shadow Hearts 2 possui algumas músicas muito boas, e a qualidade sonora de forma geral é a melhor da série até agora.



Todas as cutscenes importantes são dubladas e felizmente a dublagem é, na maior parte, bastante competente para os propósitos da história do jogo. É mais difícil julgar as atuações intencionalmente exageradas das partes de humor, mas os diálogos relevantes do enredo principal são devidamente atuados, de forma condizente com o tom do jogo como um todo ao menos.

Gameplay

Exploração

A jogabilidade básica de exploração mudou muito pouco com relação ao jogo anterior, com as principais diferenças sendo a adição de vários sistemas que influenciam combate e algumas melhorias gerais de conveniência.

A navegação entre as localidades ainda é feita por um mapa nos mesmos moldes do primeiro jogo.



O judgement ring retorna aqui, com funcionamento basicamente idêntico ao do jogo anterior (e maiores detalhes sobre isso estão no meu review dele), mas agora ele é usado com muito menos frequência fora de combate, ficando relegado principalmente à loteria e aquisição de descontos nas lojas.

Descontos, aliás, funcionam de forma mais simplificada. Agora você tem um cartão de descontos desde o começo, e à medida que você gasta dinheiro ele ganha pontos que elevam seu rank e esse rank define o desconto máximo que você pode conseguir. Agora você precisa de apenas uma rodada de judgement ring para conseguir o desconto que quiser, ao invés de uma para cada 10% no primeiro Shadow Hearts. Falhar ao conseguir um desconto sem ter dinheiro para comprar os produtos pelo preço base te penaliza com perda de pontos, o que pode rebaixar seu rank.



O círculo para combate, por outro lado, agora possui toda uma área de customização no menu principal. É possível adquirir itens para aplicar melhorias persistentes ao círculo de cada personagem, influenciando o tamanho da área principal e da área de strike. Também é lá que você pode usar itens que associam chances de causar status negativos aos ataques do personagem, e é possível inclusive aumentar o número de área de sucesso, aumentando a quantidade de ataques possíveis em um mesmo turno. Também é possível escolher 4 estilos para o judgement ring, facilitando ou dificultando sua execução em troca de desvantagens e vantagens. Por outro lado, não existem mais status positivos para o judgement ring, apenas negativos. Todas as vantagens são conseguidas através de acessórios e das customizações do círculo. As armas mais poderosas de cada personagem ainda diminuem um pouco a área de sucesso com relação às iniciais.

Os personagens, que no primeiro Shadow Hearts eram bastante especializados, agora são mais configuráveis. Além das habilidades específicas de cada um, agora existem magias que ficam disponíveis para um personagem ao equipar crests. Cada crest dá ao personagem determinadas magias, funcionando de forma semelhante ao sistema de equipar matérias em Final Fantasy VII.



As skills de cada personagem agora possuem aprendizado (e às vezes funcionamento) diferenciados para cada um, podendo envolver inclusive o progresso em side quests pessoais. Isso por si só expande bastante o conteúdo disponível no jogo e a variedade no gameplay.

Os personagens, inclusive, eu achei tão variados e divertidos que fiz questão de ficar revezando entre todos durante o jogo. Algo que facilitou muito isso é o fato de que agora você pode configurar até 3 formações do grupo e trocar facilmente entre elas a qualquer momento em campo.

O sistema de malícia do primeiro Shadow Hearts, que envolvia a necessidade de visitas periódicas ao "cemitério" mental de Yuri foi abandonado aqui. O cemitério ainda existe, agora com um layout diferente, mas ainda serve o principal propósito de permitir a aquisição e evolução de fusões para o herói. Para isso você usa Soul, que é adquirido no final dos combates junto com a experiência, e que ao contrário do primeiro jogo não é mais dividido em elementos.



As dungeons são em geral bem maiores que antes e também mais labirínticas. As primeiras são pouco mais que conjuntos de salas e corredores, mas com o progresso no jogo algumas começam a apresentar puzzles (que começam boçais e vão ficando um pouco mais desafiadores mais pra frente) e layouts mais interessantes. A variedade no final acaba se mostrando bastante competente. Nelas você possui à disposição um prático mini mapa para se orientar, mas não há mapas gerais.

O jogo continua utilizando encontros aleatórios para iniciar combates, da mesma forma que o anterior, mas a frequência dos encontros é perfeitamente aceitável e foram raras as ocasiões em que eu passei raiva por causa deles.



Shadow Hearts 2 tem bastante conteúdo opcional. Muito dele é distribuído por todo o jogo, em sua maior parte envolvendo as side quests relacionadas à evolução das habilidades dos personagens. Uma grande leva de conteúdo fica disponível na reta final, envolvendo principalmente as dungeons opcionais. Esse conteúdo todo também é bastante variado, indo de quests mais sociais a torneios de combate e exploração de dungeons. Suas crests inclusive são parte fundamental de uma das quests mais abrangentes do jogo. Uma parte, novamente, possui requisitos um pouco obscuros para acesso e podem exigir ficar o tempo todo voltando para localidades e conversando com todo mundo, ou mesmo explorar novamente uma dungeon. Pelo menos o incentivo para fazer isso aqui é mais intuitivo que no primeiro jogo, onde quase todo o conteúdo opcional ficava disponível de uma vez em um ponto específico da progressão, sem você imaginar que finalmente os eventos nas cidades do jogo haviam mudado.

Combate

Agora seu grupo em combate pode ser composto por até 4 personagens, ao invés de 3 como era antes. O combate aliás agora funciona de forma mais dinâmica, com os personagens se reposicionando pelo cenário durante as ações, e algumas habilidades e magias possuem área de efeito que levam isso em conta, de forma semelhante a Skies of Arcadia. Infelizmente as formas de alterar o posicionamento são bastante limitadas, mas isso se encaixa com os objetivos estratégicos do sistema.



Sua principal forma de influenciar o posicionamento dos inimigos é através do tipo de ataque utilizado, que pode empurra-los para trás ou joga-los no ar por exemplo. E a principal forma de alterar o posicionamento dos seus personagens é fazendo eles se posicionarem para um combo.

E com isso chegamos ao sistema de combos. Um sistema simples e funcional, com resultados poderosos, mas setup ágil, que é o tipo de coisa que Xenosaga 2 gostaria de ter sido capaz de fazer. Quando 2 ou mais personagens estão muito próximos um do outro, eles podem realizar um combo. Após o primeiro personagem atacar, sucesso em um rápido QTE permite continuar o combo. Independente de qual era a ordem original dos turnos, um dos outros personagens posicionados para combo pode então ser selecionado e agir em seguida. Seus ataques terão bônus no dano, com o porém de que dependendo do tipo de ataque e da forma como o ataque anterior reposicionou o inimigo, alguns hits podem errar o alvo e encerrar o combo, então é preciso planejar bem isso. Se for feito um combo com todos os 4 personagens, o último ganha acesso a encerrar com uma "Combo Magic", uma poderosa magia elemental com uma grande área de efeito, mas difícil execução em termos do judgement ring. Uma coisa para se tomar cuidado é o fato de que inimigos também podem fazer combos!



Sim, assim como em Xenosaga 2 os combos são a melhor forma de causar dano, mas ao contrário daquele jogo muitos aspectos do sistema são bem superiores aqui. Em primeiro lugar, mesmo com as vantagens dos combos, jogar sem eles ainda é viável, principalmente em combates normais. Além disso os combos aqui são rápidos de preparar, então seu uso não se torna um trabalho entediante. Por fim, existem diversas variedades de combos viáveis usando diferentes ataques e magias, com eficácia dependente dos inimigos envolvidos no combate.

Uma barra com os ícones dos personagens na parte de cima da tela mostra a ordem dos turnos seguintes, da mesma forma que em Final Fantasy X, o que ajuda a planejar combos e ações em geral.



Yuri continua utilizando suas fusões, mas agora ao invés de gastar SP para se transformar e depois consumir 1 por turno como todo mundo, agora a transformação é grátis e o gasto de SP de cada fusão ocorre a cada turno que ele passa transformado, o que acaba sendo um sistema muito mais equilibrado para contrabalancear o poder de algumas fusões e fazendo Yuri consumir seu SP a uma taxa relativamente equivalente aos outros personagens. Isso por outro lado abre uma possibilidade excessivamente poderosa: Já que realizar ou trocar a fusão não gasta o turno, Yuri se torna o personagem mais versátil do jogo mais pra frente, pois é possível a qualquer momento assumir qualquer fusão que tenha exatamente as magias adequadas para lidar com a situação atual, seja cura, buff ou ataque de qualquer elemento.

Conclusão

Shadow Hearts 2 é uma evolução tremenda com relação ao primeiro, quase comparável à diferença entre Arc the Lad 1 e 2 (mas o primeiro Shadow Hearts não é tão simplório e limitado quanto AtL1 era).

Apesar de alguns tropeços no equilíbrio de tom, atmosfera e ritmo, a experiência no fim das contas é épica e impressionante. Um dos melhores exemplares do gênero que eu joguei até agora na plataforma.



Eu fiz praticamente tudo o que havia pra ser feito, exceto por tarefas excessivamente trabalhosas, como fotografar todos os monstros para o bestiário, e meu save final contabilizou 63 horas, mais que o dobro do jogo anterior. Em nenhum momento, exceto na exploração de uma ou outra dungeon mais labiríntica e sem atrativos, eu me senti irritado ou entediado com o progresso do jogo.

Baha

Seguem todas as screenshots que eu tirei durante o jogo:


Billy Lee Black

Esse jogo é fantástico! E pelas screenshots, envelheceu muito bem =D

Espero que você também goste do 3.

Baha

A resolução do emulador ajuda bastante esses jogos a "envelhecerem bem"... bom, na maior parte das vezes.

Strife

Shadow Hearts II é fantástico mesmo, um dos meus jogos favoritos, certamente top 5 dos RPGs de PS2 pra mim.

O maior defeito dele é ter perdido o clima mais macabro do primeiro, como bem apontou. E piora no From the New World.